Tempos novos. Velhos hábitos?
Toda a natureza se comporta de alguma forma. Naquelas em que o instinto vige, o comportamento parece uniforme, com pequenas variações de acordo com a parcela da inteligência rudimentar que começa a surgir.
Exemplo rápido, algumas
espécies de macacos que já conseguem utilizar pequenas ferramentas para melhor
conseguirem seus alimentos.
Uma infinidade de estudos pode ser empreendida nos
comportamentos dos irracionais. Sempre impressionam pela sutileza,
multidiversidade e sofisticação.
Como viemos de lá, desde cedo lidamos com este
assunto. Nós humanos nos comportamos de acordo com nossas culturas, tradições,
pressões e histórico individual. Cada qual tem sua história. Cada qual tem suas
respostas.
Verdade é que vivemos dentro do
nosso universo particular.
O que já conseguimos perceber de tudo o que nos
cerca significa o reflexo dos avanços que já fizemos em nossa maneira de olhar
e entender e racionalizar a partir da lógica.
Tudo o que ocorre à nossa volta
faz parte do lado de fora de nós. Para esta relação nos utilizamos dos cinco
sentidos. Eles nos capacitam a ver, tocar, cheirar, ouvir e sentir o gosto das
coisas, de tudo aquilo que nos rodeia.
Temos uma estrutura psíquica formada
desde milênios nas múltiplas experiências vividas a partir da mônada divina quando
se desprendeu de Deus e foi buscar sua evolução.
Como somos singulares em Deus,
cada qual vivenciou no tempo à sua maneira. Isto é particular de cada ser,
donde não podemos exigir que o outro faça exatamente o que fazemos. Todos podem
chegar a um resultado único seguindo caminhos diferentes. É isto que torna a
evolução satisfatória e diferente para cada ser.
Ora, segundo Jung, o ego é o
centro da consciência e um dos maiores arquétipos da personalidade. Ele fornece
um sentido de consistência e direção em nossas vidas conscientes.
Ainda, de
acordo com Jung, a princípio a psique é apenas o inconsciente. O ego emerge
dele e reúne numerosas experiências e memórias, desenvolvendo a divisão entre o
inconsciente e o consciente. É, pois um estágio de transição entre o que já foi
vivido com o despertamento do self, o
“eu interno” ou o “em si mesmo”.
O ego
assume várias personas que são as máscaras criadas para cada situação.
Eis aí a
grande diferença entre os indivíduos. Tudo vai depender da forma como cada qual
trabalha seus recursos mnemônicos e suas libertações dos mitos, ritos e tabus,
ou não. Daí a enorme diferença entre as pessoas. Cada qual vivenciando o que já
se auto-construiu.
Não raro estamos condicionados a vários tipos de comportamento padrão, existentes no meio social ao qual pertencemos, colocando ainda a herança familiar nos quesitos da ética e da moral, lições de berço. Como somos Espíritos reencarnados, cada qual traz um projeto e um histórico.
Ao adentrarmos o seio
familiar e concomitantemente o social, começamos a reagir de acordo com nossas
tendências.
Assim é que as crianças muitas vezes têm um início de encarnação
totalmente diferente do que vai ser quando chegar à adolescência e à fase
adulta. Muitos educadores e pais buscam encontrar um modelo de educar.
Muito
difícil tal tentativa.
Cada criança deve ser observada em suas reações.
Assim,
pais e educadores necessitam agir como cientistas que trabalham em seus
laboratórios, num processo empírico, às vezes, solitários, de experimentação e
anotação dos resultados. Quando vemos um cérebro e lemos André Luiz dizendo que
ele é o ninho da mente, é bom que aprofundemos um pouco mais nossas definições
acerca dos comportamentos. A mente vem de longe. O cérebro é, de agora, agente
que reflete o que cada um é.
Dentro deste complexo chamado evolução, cada qual está num grau.
Minha avó
dizia que “os dedos da mão não são iguais”.
Ela estava certa.
Os filhos se
diferem.
As lições padronizadas do bem ou do mal sofrem alterações quando
entram no universo de cada um.
Segundo Paolo Pieri da Associação Internacional
de Psicologia Analítica da Universidade de Florença, Itália,
“... os
procedimentos racionais são efeitos do inconsciente de reconduzir todo elemento
psíquico que observa aos saberes que ela própria já constituiu”.
Então cada
pessoa reagirá a um estímulo de acordo com seu patrimônio psíquico. É sempre
bom relembrar que vemos e presenciamos tudo de acordo com as expansões da
mônada divina que somos.
Os comportamentos partem dessa premissa. Um indivíduo que ainda não vivenciou as possibilidades dos aprendizados de grande estrutura cognitiva não consegue entender o que outro já entende com facilidade.
Da mesma forma as reações
comportamentais seguirão a ordem dos processos ético-sociais e morais que já
aglutinamos e depuramos ao longo da nossa milenar experiência evolutiva.
Dentro
da Pedagogia de Jesus verificamos que o Mestre sempre propunha. Suas lições de
alto grau de profundidade podem ser apreendidas por todo tipo de mente no
degrau evolutivo em que se situe.
Há pessoas que entendem que “dar a outra
face” significa virar o rosto para que o agressor bata no outro lado. Há outros
que entendem que Jesus dizia das faces de uma moeda ou um papel. Se alguém lhe
jogar pedras, devolva-lhe flores, correspondendo à outra face daquela ação.
O prof. Carlos Torres Pastorino sabiamente colocou no livro: Impermanência e Imortalidade, psicografia de Divaldo Franco, que
“um comportamento dinâmico sob
inspiração dos sentimentos do ser profundo não opera cansaço nem sofreguidão,
não produz inquietação, nem marasmo, porque é sempre renovador em face da
vitalidade que possui”.
Eis um conteúdo que pode alavancar nossas mudanças de
comportamentos.
Comumente se acha que mudar paradigmas é tarefa difícil.
Imaginemos alguém que reencarna no Brasil vindo de um país que ainda pune com
chibatadas alguns tipos de comportamentos.
Essa pessoa certamente terá
dificuldades em viver aqui desde o início da sua encarnação. Possivelmente terá
um comportamento arredio, medroso, especulativo. Precisará conhecer a nova
sociedade.
Precisará se envolver com novas formas de práticas religiosas aqui
existentes e, certamente, buscará aquela que mais se aproximar da sua antiga
crença, quiçá, retorna a ela através de reencontros com pessoas da sua antiga etnia.
Quantas vezes nos deparamos com irmãos quase que alienados do contexto social
vivido aqui. Não conseguem se adaptar e levam tempo para tal ou até mesmo nunca
conseguem e desencarnam sem mudar antigos hábitos, remanescentes do seu
passado. O lado contrário também.
Um brasileiro reencarnado numa região do
oriente médio certamente terá grandes dificuldades em adequar-se às leis que
regem aquelas sociedades, tendo em vista que o islamismo, diferente das
religiões aqui praticadas em grande escala, é, ali, quase religião oficial.
Seria um brasileiro, renascido naquelas terras, um rebelde comportamental?
No
outro exemplo seria um antigo islâmico, também aqui renascido, um desajustado
social? São as tais diferenças que necessitam estudos e não julgamentos
tácitos, apriorísticos.
Por isso mesmo que Jesus propôs a fundação do Seu Reino na Terra. Quando isto ocorrer, as pessoas falarão uma mesma língua comportamental, pois que o Cristianismo, além de informar, liberta. Além de instruir, expande consciências.
Atualmente o que se vê é um conjunto de comportamentos
setorizados seguindo mais ou menos um padrão.
E, dentro desses núcleos
comportamentais, seus membros diferem da lei geral, motivados por seu
livre-arbítrio.
Quando nos é proposta a reforma íntima, os objetivos a serem
alcançados são uma melhor justaposição dos membros sociais, adequando-os não só
para a vida como encarnados e sim após a encarnação.
Sabemos que os planos
espirituais mais evoluídos respeitam o livre-arbítrio, mas seus moradores
participam de um modelo superior de consciência pela racionalização, pela
lógica e pelos sentimentos elevados.
De novo vamos citar o Prof. Pastorino, agora na obra: Técnica da Mediunidade. Segundo ele são vários os planos que nos permeiam.
A começar pelo mais puro,
temos o Plano Divino, depois o Plano Monádico, habitado por consciências que já
despertaram em si o Cristo Interno.
Após, o Plano Espiritual, onde residem os
seres transcendentes. Depois o Plano Mental, onde residem os Espíritos que
estão no estágio de Homem para cima, noutra faixa da evolução.
Em seguida temos
o Plano Astral, que nos rodeia.
Mais conhecido como plano espiritual, para onde
a grande maioria da humanidade vai quando desencarna ou que ali se encontra
aguardando sua encarnação e, por último, o Plano Físico, este em que nos
encontramos.
Ou seja, estamos envolvidos num processo de interpenetração onde
cada qual comporta de acordo com seu estágio.
Dialogando com as páginas daquele livro, concluímos que o importante é que todos nós passemos a nos nutrir de bons pensamentos, que vão gerar boas palavras e boas ações.
Como aqueles campos são regidos por faixas de
frequências, estaremos atraindo as mais altas frequências que nos capacitarão a
maiores entendimentos da vida e suas propostas.
O tempo de passar pela vida
deixando que ela nos leve já está perdido.
Kardec nos diz em A Gênese, capítulo
18, item 27, que: “... No dizer dos Espíritos, a Terra não deve ser
transformada por um cataclismo que anulará subitamente uma geração.
A geração
atual desaparecerá gradualmente, e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que
nada seja mudado na ordem natural das coisas...”.
Novos Espíritos mais evoluídos já estão renascendo. Serão eles os precursores da nova civilização. Eles mudarão o projeto de educar, pois necessitarão mais e exigirão muito.
Eles varrerão o uso das drogas lícitas ou não, por elas não se
fazerem representar em seus conteúdos ético-morais e transcendentes. Eles
erguerão as novas balizas sociais.
E já se encontra entre nós uma grande quantidade
desses irmãos vindos dos planos superiores da Terra, ou, como disse Manoel
Philomeno de Miranda em “Transição Planetária”, virão de outros orbes.
E como
não têm história gravada por aqui, serão livres para obrarem, uma vez que não
terão adversários formais em seus encalços. É necessário e de bom senso anexar
estas informações aos nossos conteúdos vivenciais diários e em nossos projetos
futuros.
Vejamos quais são os nossos comportamentos atuais. O que mais gostamos, desejamos e buscamos. Observemos qual a relação deles com o Evangelho de Jesus. Não o Evangelho religioso e sim o crístico. Ou seja, o Evangelho que toca nossa intimidade e nos convida a modificar ações.
Analíticos dizem que predomina
atualmente nos meios sociais a geração Z – aqueles renascidos entre 1993 a
2010. Estão hoje entre um ano a dezoito anos de idade.
Segundo dizem é uma
geração privilegiada porque recebeu muita coisa pronta e desde criança podem
manipular informações de forma digital, bem como buscar conhecimentos.
São
empreendedores e adoram quebrar paradigmas e com senso crítico muito apurado.
São estes os novos irmãos que estão chegando ao plano físico.
Como os estamos
recebendo?
É preciso nos adaptar. Com todo respeito ao dizer, mas existem
pessoas que não mudam uma vírgula dos seus hábitos.
São os famosos “teimosos”,
“cabeças duras”, “intransigentes”, que fazem da sua palavra uma lei, dos seus
“achismos” a mais absoluta verdade.
Será que chegarão à velhice como ranzinzas
e estorvos para os filhos e netos? Há pessoas que não se completam de forma
alguma numa atividade de cunho religioso ou assistencial.
Não suportam ouvir
uma palestra espírita. Não aguentam ou não têm tempo para assistir a um
documentário televiso que fale dos progressos das ciências e tecnologias, que
quase nunca buscam ler um livro edificante para aprimorar seus conteúdos
espirituais e cognitivos, dizendo que não têm paciência para tal, que dormem
durante a leitura.
Ora, se eu durmo perante uma aula, significa que tenho que
me cuidar.
A Terra é uma grande escola. São pessoas que não arredam pé das suas posturas vindas desde gerações passadas.
Não saem do homem de antanho, repetitivo nas
encarnações e ultrapassado no tempo atual. É bom que se diga que não estamos
aqui falando de avanços comportamentais que maculam a idoneidade moral dos
seres, como os inúmeros portais da sensualidade, dos alcoólicos, da gula
desenfreada pelo atual e crescente glamour da culinária.
Da falta de respeito
social e familiar, das intransigências pessoais, da busca deliberada do
enriquecimento a qualquer custo, da política exercida a seu próprio favor etc.
Em tudo se deve buscar a verdade com a bússola do bom senso. Sebe-se que a
verdade absoluta é Deus refletido em Suas Leis Naturais.
Comportar-se regiamente significa estar de pleno acordo com as aludidas Leis Naturais, instituídas por Deus, dentro do seu tempo social e espiritual.
Quando
o indivíduo se entende como observador “ele se curva diante da mente superior
que dá a essa energia modos de realidade com que ainda temos de sonhar em nossa
existência. Nós ainda entendemos essa energia como caos, mas sua ordem é
definida. Está acima de nós. É mais profunda”.
Quem nos fala assim é
Ramtha, da Escola da Mente nos EUA. Sim, nos tornarmos observadores do contexto
no qual estamos inseridos é dar um passo à frente para a quebra de paradigmas.
É dar um avanço no quesito: mudança de comportamentos. Daqui a pouco muitos de
nós estaremos do lado de lá suplicando a possibilidade da volta. E voltaremos
como? Velhos avós em crianças novas?
Mas também não se coloca remendo velho em
roupa nova. Vai desconfigurar aquilo que acaba de nascer ou ser criado. O velho
hábito do ganhar mais no menor tempo e com o menor esforço não prevalecerá
dentro em pouco. Em poucas décadas as sociedades terão que modificar sua
maneira de interagir, pois que os pobres poderão ir às tribunas exigir seus
status. E o farão com justiça. Outros grupos raciais subjugados poderão
reivindicar sua posição certa de filhos de Deus. E para esses grupos não vale aqui
o conceito de reencarnantes necessitando reparos. Não. Muitos deles são
Espíritos luminares lutando pela igualdade social. É preciso saber observar o
fruto para conhecer a árvore, como disse Jesus.
“Há o progresso regular e lento que resulta da força das coisas. Mas, quando um povo não progride suficientemente rápido, Deus lhe suscita, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma”. O Livro dos Espíritos – questão 783. Tudo nos leva a pensar seriamente como estão nossas opções e nossas ações. Bom para refletir. Bom para analisar. Bom para modificar sempre e sempre para melhor.
Guaraci de Lima Silveira