SOFTWARE PARA A
ETERNIDADE
O instinto independe da
inteligência?
Precisamente, não, por
isso que o instinto é uma espécie de inteligência. É uma inteligência sem
raciocínio.
Por ele é que todos os
seres provêm às suas necessidades.
Questão nº 73
Um dos inventos mais
prodigiosos de nosso século é o computador, cada vez mais sofisticado,
beneficiando todos os setores da atividade humana.
Minha sensação, quando
comecei a usá-lo, aposentando velha máquina de escrever, foi de quem deixa uma
carroça para usar moderno carro importado.
O computador está
presente nos lares, nas comunicações, nos veículos, facilitando a vida,
tornando-a mais confortável e segura.
Há cálculos
relacionados com a astronomia e viagens espaciais que demandariam meses. Hoje
computadores os fazem em horas. Os mais possantes, em minutos.
No século XVI o genial
astrônomo alemão Johannes Kepler levou quatro anos para calcular a órbita de
Marte, uma elipse perfeita. Um computador faria os mesmos cálculos em quatro
segundos.
-Só falta falar - diz
boquiaberto um usuário noviço.
Está enganado.
Já existem computadores
que transformam os impulsos eletromagnéticos em voz humana sintetizada. Em
processo inverso atendem ao comando do operador.
***
Curiosamente, não
obstante os prodígios que realiza, o computador não tem nada de inteligente.
É até muito obtuso - só
faz o que mandamos, segundo as características do software, seu sistema de
rotinas e funções.
Lembra o instinto, que
é uma programação para os seres vivos, relacionada com conservação, reprodução,
prole, hábitat, sociedade...
Nenhuma espécie animal
precisa de orientação para o acasalamento. Podemos criar um cão sem jamais ter
contato com qualquer animal. Quando o colocarmos junto a uma cadela no cio, ele
exercitará o ato sexual instintivamente, sem dificuldade.
Aves migratórias viajam
milhares de quilômetros, em determinada época do ano, fugindo dos climas frios
ou buscando uma região para o acasalamento.
No período denominado
piracema, grandes cardumes de peixes sobem os rios até as nascentes para
desova, enfrentando predadores e corredeiras.
Quem orienta essas aves
e peixes?
Ninguém.
Eles obedecem a um
software inscrito em sua consciência embrionária e que no momento oportuno
comanda suas ações, levando-os a fazer exatamente aquilo para o qual foram
programados.
Em algumas espécies há
o instinto gregário.
Temos, por exemplo, a
sociedade das abelhas, que faz a admiração dos entomologistas.
A colméia é uma
autêntica cidade, com notável senso de cidadania entre as abelhas. Todas têm
uma função definida, as operárias, as guerreiras, a rainha...
Há um conselho que
decide quem é quem? Não. Apenas cumprem o software da espécie.
***
Uma característica em
comum nas espécies é a sua imutabilidade relativa. Não mudam ou o fazem mui
lentamente como se a Natureza houvesse elaborado para elas um programa especial,
quase definitivo.
Exemplo - as baratas.
São fósseis vivos,
porquanto vivem na Terra há milhões de anos. Desde que surgiram têm a mesma
tendência de se infiltrarem em vãos minúsculos e escuros e de se nutrirem com
restos de alimentos.
Mudou apenas o
comportamento feminino em relação a esses ortópteros onívoros. Nos primórdios
da humanidade, na idade da pedra, as mulheres apreciavam as baratas como
petiscos. Hoje sentem horror delas.
Essa idéia de relativa
imutabilidade fica meio estranha para quem está familiarizado com Darwin.
Em A Origem das
Espécies o grande naturalista inglês proclama que todos os seres vivos passam
por mutações. O aparecimento do Homem teria sido a culminância de um processo
evolutivo que começou com organismos extremamente simples. Isso está
suficientemente demonstrado, não é mera teoria.
Ocorre que a
programação de cada espécie é um segredo guardado na intimidade dos genes. Os
Espíritos superiores que supervisionam a vida na Terra têm acesso a esse
“painel de controle”.
Ao longo de milhões de anos, alteram a programação de
alguns indivíduos, promovendo mutações que culminam com o aparecimento de novas
espécies, enquanto seus pares permanecem imutáveis, cumprindo o planejamento
celeste.
A evolução não seria,
assim, mera decorrência de uma seleção natural, como pretendia Darwin, ou uma
questão de adaptação ao meio, como ensinava Lamarck.
Diga-se de passagem que
o Homem começa a entrar nessa câmara íntima onde está o “painel”. Já é capaz de
interferir na intimidade dos genes. Pode assim, alterar características de uma
espécie, e conseguirá criar novas espécies.
O problema está em suas
motivações e competência.
Ele não está
interessado em colaborar com Deus. Cuida apenas de interesses imediatistas.
Além do mais, nesse terreno é uma espécie de aprendiz de feiticeiro, mexendo
com forças que desconhece, e - o que é pior - sem um princípio ético, de
respeito à Natureza.
***
Costuma-se dizer que um
dos problemas do ser humano está em trazer resquícios de programações da
animalidade inferior.
É a minha natureza -
diz o indivíduo agressivo, como se trouxesse algo do leão.
O irrequieto revela o
temperamento dos macacos.
O indolente guarda a
pachorra do bicho-preguiça.
O que se compraz com a
desgraça alheia lembra a risada sinistra da hiena
.
Velha fábula, atribuída
a Esopo, é bem ilustrativa.
Um escorpião, desejando
transpor largo rio, pediu à rã que o ajudasse.
-De modo algum. Você
vai me picar e morro envenenada.
O rabo torto a
tranqüilizou.
-Seria um tolo se
fizesse isso, porquanto eu também morreria. Não sei nadar.
Argumento lógico. A rã
decidiu atendê-lo.
Quando estavam no meio
do rio, o escorpião picou sua benfeitora, que surpreendida, já em agonia,
reclamou:
-Que loucura, você me
envenenou e agora vai morrer afogado!
-Desculpe. É a minha
natureza...
Assim poderiam explicar
os homens suas atitudes inconseqüentes, resquícios da animalidade primitiva.
***
Só há um detalhe. Uma
pequena diferença:
Somos seres pensantes.
Temos a capacidade de
comandar nossas vidas.
Age instintivamente,
dando vazão a impulsos de animalidade inferior, aquele que não exercita a
razão, recusando-se a distinguir o certo do errado, o que deve ou não fazer.
Diz o apóstolo Paulo na
Primeira Epístola aos Coríntios:
Quando eu era menino,
falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a
ser homem, desisti das coisas próprias de menino.
É chegado o tempo de
deixarmos o comportamento instintivo, próprio de nossa infância espiritual, e
assumirmos a condição de seres pensantes, criados para o Bem e a Verdade, que
compõem um software básico, um programa imutável instalado pelo Criador em nossa
consciência.
Podemos ignorá-lo ou
descumpri-lo, já que detemos o livre-arbítrio, mas sempre retornaremos a ele,
após amargas frustrações, até que completemos as transformações íntimas que
façam resplandecer nossa natureza espiritual como filhos de Deus.
Livro A Presença de
Deus