UM GRANDE ABISMO
“E além disso, entre nós e vós está posto um grande abismo ...” - (Lucas 16:26.)
Na parábola do rico e Lázaro (Lucas 16,19-31), vemos que não é apenas adiferença econômica que separa os dois personagens bíblicos.
A nosso ver ,tanto a riqueza quanto a pobreza , que são mencionadas por Jesus, podem
Essa diferença de entendimentos entre duas ou mais pessoas, em relação a um determinado fato ou coisa , é confirmada na sexta parte introdutória de “O Livro dos Espíritos ”, onde lemos que estes pertencem a diversas categorias e não sã iguais , nem em poder , inteligência , saber ou moralidade .
Achamos que o homem verdadeiramente rico , é aquele que pode dizer-sehomem de bem .
“O Evangelho Segundo o Espiritismo ” no capítulo 17, no item 3, descreve muito bem esse homem . Vejamos isso a seguir :
“O homem de bem
O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça , de amor e decaridade , na sua maior pureza .
Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos , a si mesmo perguntará se violou essa lei , se não praticou o mal , se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil , se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim , se fez a outro e tudo o que desejara lhe fizessem.
Deposita fé em Deus , na Sua bondade , na Sua justiça e na Sua sabedoria .
Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas .
Tem fé no futuro , razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais .
Sabe que todas as vicissitudes da vida , todas as dores , todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar .
Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo , faz o bem pelo bem , sem esperar paga alguma;
retribui o mal com o bem , toma a defesa do fraco contra o forte , e sacrifica sempre seus interesses à justiça .
Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros , nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos .
O egoísta, ao contrário , calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa .
O homem de bem é bom , humano e benevolente para com todos , sem distinção de raças , nem de crenças , porque em todos os homens vê irmãos seus .
Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.
Em todas as circunstâncias , toma por guia a caridade , tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém , que não
recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade , ainda que ligeira , quando a pode evitar , falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor .
Não alimenta ódio , nem rancor , nem desejo de vingança ; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.
É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo :
‘Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado’.
Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios , nem , ainda , em evidenciá-los.
Se a isso se vê obrigado , procura sempre o bem que
possa atenuar o mal .
Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las.
Não procura dar valor ao seu espírito , nem aos seus talentos , a expensas de outrem ; aproveita, ao revés , todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros .
Não se envaidece da sua riqueza , nem de suas vantagens pessoais , por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.
Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões .
Se a ordem social colocou sob o seu mando outros
O subordinado , de sua parte , compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. (Cap. XVII, nº 9.)
Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza , como quer que sejam respeitados os seus .
Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem ; mas , aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar , no caminho se acha que a todas as demais conduz.” (KARDEC, 1996, pp. 272-274).
Visto tudo isso , não temos dúvidas em afirmar que existe um precipício interpretativo entre os que, no Evangelho , praticam uma fé raciocinada eaqueles que têm olhos unicamente para a letra .
Referência bibliográfica:
KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiritismo . Rio de Janeiro : FEB, 1996.