sábado, 28 de abril de 2012

EXPIAÇÃO COLETIVA!!



Diante das leis divinas todos os homens são iguais. A diversidade dos instintos e das aptidões intelectuais e morais inatas observadas resultam das vivências, das experiências e habilidades conquistadas ao longo do tempo através de inumeráveis reencarnações. Quando usamos mal o livre-arbítrio, suprimindo a liberdade dos nossos semelhantes, impondo com violência as nossas idéias, prejudicando sobremaneira o nosso próximo, nos situamos contrários às leis naturais, sendo catalogados pelas Leis Divinas como réus confessos, trazendo inscritas as sentenças em nossas consciências, vivenciando intenso sofrimento interior.
Nos domínios espirituais, o remorso nos assenhoreia, o sofrimento tem a aparência de tempo indeterminado, de algo que jamais terá fim; sem paz, ansiamos pela esperança, consubstanciada na misericórdia divina, permitindo a reparação das faltas. Urge, então, empenharmo-nos na tarefa do resgate de nossos débitos.
O apóstolo dos gentios, Paulo, disse que o homem, na “carne” (existência física), tendo semeado a corrupção, terá a chance de ceifá-la, erradicando-a de si (Gálatas 6:7-8). O amor incomensurável de Deus nos permite a experiência do retorno à estrada no mesmo ponto em que dela nos afastamos (“a sementeira é livre, a colheita é obrigatória”). O Salmo 28 de Davi igualmente contém esse ensinamento, assim manifestado: “Paga-lhes segundo as suas obras, segundo a malícia dos seus atos; dá-lhes conforme a obra de suas mãos, retribui-lhes o que merecem”. Tudo isso confirmado pelo Mestre: “... a cada um segundo as suas obras” (Apocalipse 22:12).
Cometendo a transgressão, somos conduzidos ao tribunal da nossa própria consciência, penetrando no mundo espiritual como algozes. Com a chance da retificação expiatória na carne, retornamos pelo portal da morte como vítimas, sem mais a presença desagradável da culpa a nos consumir. O suplício tornou-se temporário, conforme ensinamento de Jesus: “Em verdade te digo que não sairás da prisão enquanto não pagares o último centavo” (Mateus 5:26).
A ação do resgate pode acontecer, correlacionando-a com o tipo de infração. Se o mal foi praticado coletivamente, isto é, em conluio lastimável junto a um grupo de verdugos (“Ai daqueles por quem vem o escândalo” - Mateus 18:7), a liquidação dos débitos acontecerá com a presença de todos os protagonistas envolvidos, processo conhecido, na Doutrina Espírita, como expiação coletiva.  
Clelie Duplantier diz que faltas coletivas
devem ser expiadas coletivamente
pelos que, juntos, as praticaram
As desgraças sociais envolvendo muitas vítimas são relacionadas a fatores casuais pelos materialistas e espiritualistas menos avisados, o que caracteriza uma hipótese por demais simplória, não merecendo consideração, desde que a própria harmonia e ordem do universo, como igualmente a grandeza matemática e estrutural das galáxias, apontam para uma causa inteligente. Aliás, a frase lapidar de Teófilo Gautier é sempre lembrada: “O acaso é talvez o pseudônimo de Deus quando Ele não quer assinar o seu próprio nome”.
 O estudo profundo do Espiritismo nos leva ao entendimento dos fatores causais das calamidades, opondo-se aos que põem a causa de lado, por falta de explicações suficientes e convincentes. Em “Obras Póstumas”, no cap. intitulado “Questões e Problemas”, há uma abordagem especial de Kardec e dos Espíritos a respeito das expiações coletivas, comprovando a entidade Clelie Duplantier que faltas coletivas devem ser expiadas coletivamente pelos que, juntos, a praticaram. Disse que todas as faltas, quer do indivíduo, quer de famílias e nações, seja qual for o caráter, são expiadas em cumprimento da mesma lei. Assim como existe a expiação individual, o mesmo sucede quando se trata de crimes cometidos solidariamente por mais de uma pessoa. A propósito, o Codificador, em “A Gênese”, no capítulo 18, item 9, chama-nos a atenção de que a humanidade é um ser coletivo no qual acontecem as mesmas revoluções morais que em cada ser individual.
Duplantier afirma também que, graças ao Espiritismo, a justiça das provações é agora compreendida e não decorre dos atos da vida presente, porque corresponde ao resgate das dívidas do passado. Depois afirma que haveria de ser assim com relação às provas coletivas, que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se reencontram para sofrerem juntos a pena de Talião.
Somente os acontecimentos importantes e
capazes de influir na nossa evolução
moral são previstos por Deus
As tragédias, levando às desencarnações coletivas, não são frutos do acaso. Na questão 258, de “OLE”, A.K. pergunta se, antes de reencarnar, o Espírito tem consciência ou previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena. A resposta: "Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisto consiste o seu livre-arbítrio”. A desencarnação, o momento certo da morte, é realmente predeterminado, assim como está documentado em “OLE”, Q. 853, dizendo que o instante da morte é fatal, no verdadeiro sentido da palavra, e, chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podemos furtar. A questão 853(a) frisa que, quando é chegado o momento do nosso retorno para a Dimensão Espiritual, nada nos  livrará e também relata que já sabemos o gênero de morte pelo qual partiremos daqui, pois isso nos foi revelado quando fizemos a escolha desta ou daquela existência. Importante, igualmente, o comentário de A.K., na Q. 738, dizendo que ”venha por um flagelo a morte, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida”. Na Q. 859, os Espíritos dizem a A.K. que a fatalidade, verdadeiramente, só existe quanto ao momento em que devemos aparecer e desaparecer deste mundo. Na Q. 872, A.K. enfatiza: “no que concerne à morte é que o homem se acha submetido, em absoluto, à inexorável lei da fatalidade, por isso que não pode escapar à sentença que lhe marca o termo da existência, nem ao gênero de morte que haja de cortar a esta o fio”.
Devemos destacar que somente os acontecimentos importantes e capazes de influir na nossa evolução moral são previstos por Deus, porque são úteis à nossa purificação e à nossa instrução (”O LE”, Q. 859a). Entretanto, “o amor que cobre multidão de erros”, em sintonia com a Lei de Ação e Reação e com o livre-arbítrio, pode evitar acontecimentos que deveriam realizar-se, como igualmente permitir outros que não estavam previstos (”OLE”, Q. 860). 
Portanto, o acaso não tem participação nas determinações divinas. O Pai nos ama incondicionalmente e nos proporciona a oportunidade da redenção espiritual, dando-nos a chance bendita de resgatarmos as infrações do passado contrárias às Suas Leis, de várias formas, inclusive coletivamente. As expiações coletivas, segundo “O Livro dos Espíritos”, questão 737, oferecem o ensejo de progredirmos mais depressa no rumo evolutivo, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos séculos.
Os Espíritos, dizem os imortais, influem em
nossos pensamentos e em nossos atos
muito mais do que imaginamos
Como se processa a convocação dos encarnados para o evento da desencarnação coletiva? Qual a explicação espiritual para o fato de muitas pessoas saírem ilesas das catástrofes, algumas até mesmo perdendo o embarque do meio de transporte a ser acidentado? As respostas são baseadas nas premissas de que o acaso não pode reger fenômenos inteligentes e na certeza da infalibilidade da Lei Divina, agindo por conta de Espíritos prepostos, sob a subordinação das entidades superioras.
Na Q. 459 de “OLE”, A.K., perguntando se os Espíritos influem em nossos pensamentos e em nossos atos, obteve a seguinte resposta: “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”. Portanto, há influência marcante, embora oculta, dos Espíritos em nossos atos, sugerindo pensamentos, “dando a impressão de que alguém nos fala” (Q. 461). Recebemos uma sugestão mental, funcionando a nossa mente como um aparelho emissor-receptor, de acordo com a nossa sintonia. As questões 526, 527 e 528 de “OLE” são importantíssimas para esse entendimento, desde que os Espíritos, na execução dos desígnios divinos, atuem sobre a matéria para cumprimento das Leis da Providência, nunca as derrogando. 
Na produção de fatos voluntários, as entidades valem-se das circunstâncias naturais para gerar os acontecimentos. Se soar o momento de alguém desencarnar e “era destino dele perecer por conta de um acidente”, pode a espiritualidade lhe inspirar para subir em uma escada podre que não resista ao seu peso. A escada não foi quebrada pelos Espíritos.
Em outro exemplo, “um homem tem que morrer eletrocutado por um raio”. Os Espíritos lhe inspiraram a idéia de se abrigar debaixo de uma árvore sobre a qual cairia a descarga elétrica. As entidades não provocaram a produção do raio, mas sabiam qual a árvore a ser atingida.
Em outro ensinamento bem prático, “se alguém não tem que perecer” e uma pessoa mal-intencionada dispara sobre ele um projétil de fogo, os Espíritos não atuam desviando a trajetória da bala, já que o projétil tem que seguir o seu curso de acordo com as leis da matéria; entretanto, a espiritualidade lhe sugere a idéia de se desviar ou atrapalhar a quem está empunhando a arma. Importante esse ensinamento, já que muitas pessoas moram e circulam em locais bem perigosos, principalmente nas grandes cidades brasileiras, e somente perecerão por balas perdidas se estiverem subordinadas a essa programação.
É muito importante o ensinamento de que o mal não é programado, isto é, ninguém nasce para ser agente de cumprimento de prova ou expiação, como é descrito na Q. 470 de “OLE”: “a nenhum Espírito é dada a missão de praticar o mal. Aquele que o faz fá-lo por conta própria, sujeitando-se, portanto, às conseqüências”.
O naufrágio do Titanic foi pressentido por
algumas pessoas, como, dentre elas, 
o empresário inglês Middleton
Muitas pessoas que possuem habilidades no campo da precognição ou premonição conseguem prever tragédias futuras. Citamos o irlandês Zak Martin, descrevendo um avião colidindo num arranha-céu e explodindo em chamas. Seis dias após, dois aviões comerciais foram lançados contra as torres gêmeas, em Nova York. O terrível naufrágio do Titanic foi pressentido por algumas pessoas como o empresário inglês Middleton que sonhou
durante  duas  noites  seguidas  com um navio de quilha para o ar, cercado de
 pessoas e bagagens boiando. Resolveu, então, cancelar sua viagem e a de seus familiares. Um marinheiro recusou a função de subchefe de máquinas por causa de uma premonição de desastre. A sensitiva americana Sylvia Browne, em outubro de 2004, disse em pleno programa  de  TV  que  os  turistas deveriam evitar viajar
para a Índia. Dois meses depois parte do país mencionado foi atingido pelo tsunami.
 
Na literatura subsidiária espírita temos algumas fontes de consulta a respeito do assunto em tela: 1- Em 17 de dezembro de 1961, em Niterói (RJ), aconteceu a trágica tragédia num circo, relacionado, segundo o Espírito Humberto de Campos, como expiação coletiva, envolvendo romanos que assassinaram dezenas de cristãos, em um circo armado em Lião, no ano de 177 ("Cartas e Crônicas, cap. 6, FEB);2-  O incêndio do Edifício Joelma (foto),
em São Paulo, com muitas vítimas, foi explicado como dívidas reportadas ao tempo das guerras das Cruzadas (“Diálogo dos Vivos", cap. 26); 3- Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier, na questão 250 do livro “O Consolador”, esclarece-nos: “na provação coletiva verifica-se a convocação       dos      Espíritos       encarnados,
participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro. O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então espontaneamente, através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas na dívida do pretérito para os resgates em comum, razão por que, muitas vezes, intitulais – doloroso acaso - às circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais” e André Luiz, no capítulo 18, do livro “Ação e Reação”, psicografado por Chico Xavier, descreve as palavras do benfeitor espiritual Druso, a respeito de um acidente ocorrido com uma aeronave, na qual pereceram 14 pessoas. Ressaltamos a informação de que “milhares de delinqüentes que praticaram crimes hediondos em rebeldia contra a Lei Divina encontram-se, ainda, sem terem os débitos acertados”.
Que tenhamos a certeza de que o amor de Deus é incomensurável e existe uma razão espiritual para as tragédias que deixam aterrorizadas as criaturas terrenas. Tudo tem uma finalidade, a casualidade não existe. O Pai nos proporciona a todos nós, seus filhos, herdeiros e viajores do Cosmo, a sua Eterna Misericórdia. 
 

quarta-feira, 25 de abril de 2012


OBSESSÃO ESPIRITUAL, CAUSA DAS GRANDES ANGÚSTIAS HUMANAS.
Para garantir-nos contra a sua influência urge fortalecer a fé 
pela renovação mental e pela prática do bem nos
moldes dos códigos evangélicos

Confrades vez ou outra nos indagam por que viver na Terra é tão complicado e quase sempre tão amarga é a vida? Digo-lhes que essa sensação eventualmente pode ser uma aspiração à felicidade e à liberdade e que, algemado ao envoltório físico que nos serve de cárcere, aplicamo-nos a inúteis esforços para dele sair. Contudo, alguns se abatem no desencorajamento, e a todo o instante reverberam suas lamentações. Mas é preciso resistir energicamente a essas sensações de desânimo e desesperanças, porque os sonhos para a felicidade de viver são intrínsecos a todos os homens, embora não a devamos sofregamente procurar somente na experiência material e transitória da vida terrena.
 
Comentando sobre a melancolia, encontramos em O Evangelho segundo o Espiritismo o Espírito François de Genève, ditando o seguinte: “Precisamos cumprir, durante nossa prova terrena, tarefas e compromissos que não suspeitamos, seja no que tange à devoção à família, ou cumprindo diversos deveres que Deus nos confiou. Se no transcurso dessa experiência, no desempenho das tarefas, observamos os cuidados, as inquietações, os desgostos esmagarem nossos ânimos d'alma, sejamos fortes e corajosos para derrotá-los. Avancemos e encaremos sem temor; pois que as aflições são de curta duração e devem nos conduzir para situações bem melhores no futuro”. 
Há, porém, muitas amarguras que podem ter suas origens na infidelidade aos compromissos cristãos, daí a melancolia se instala no ser, do que poderá resultar um processo obsessivo. Mas o que é uma obsessão? Etimologicamente, o termo tem sua origem no vocábulo obsessione, palavra latina que significa impertinência, perseguição. Para alguns estudiosos espíritas, a obsessão é percebida como um grande flagelo mundial. Essa visão se reveste de profunda gravidade na sociedade, que atualmente está bem instrumentalizada tecnologicamente, seja no campo das comunicações e da informática, seja nas outras áreas do saber, ampliando e aprofundando as responsabilidades de cada um em face da vida coletiva.  

OBSESSÃO É UMA INFLUÊNCIA MALÉFICA NA MENTE.
Aurélio Buarque define obsessão como sendo uma preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o espírito, resultante ou não de sentimentos recalcados; ideia fixa; mania. Da mesma forma a terminologia obsessão é usada, vulgarmente, para significar ideia fixa em alguma coisa, tique nervoso, gerador de manias, atitudes estranhas etc. Entretanto, sob o ponto de vista espírita, o termo tem um significado e interpretação mais amplos. Consubstancia-se numa influência maléfica relativamente persistente que desencarnados e/ou encarnados, tão ou mais atrasados que nós mesmos, podem exercer sobre a nossa vida mental.  
Para a escola clássica da psiquiatria, obsessão é um pensamento, ou um impulso, persistente ou recorrente, indesejado e aflitivo, que vem à mente involuntariamente, a despeito de tentativa de ignorá-lo ou de suprimi-lo. Psiquiatras que não admitem nada fora da matéria não podem entender uma causa oculta (espiritual), mas quando a academia científica tiver saído da rotina materialista, ela reconhecerá na ação do mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos uma força que reage sobre as coisas físicas, tanto quanto sobre as coisas morais. Esse será um novo caminho aberto ao progresso e a chave de uma multidão de fenômenos mal compreendidos do psiquismo humano. 
E, óbvio, não descartando a possibilidade da anomalia psicossomática, a Doutrina Espírita faz-nos conhecer outras fontes das misérias humanas, mantidas pela fragilidade moral dos seres. Reconhecemos que o uso dos fármacos antidepressivos estabelece a harmonia química cerebral, melhorando o humor do paciente, no entanto, agem simplesmente sobre os efeitos, uma vez que os medicamentos não curam a obsessão em suas intrínsecas causas, apenas restabelecem o trânsito das mensagens neuroniais, corrigindo o funcionamento neuroquímico do SNC (sistema nervoso central). Sócrates já afirmava que "se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma”. 
Por insinceridade, em nosso tênue esforço para a reforma moral, obstamos as relações equilibradas e equilibrantes conosco e com o próximo. Toda a nossa desarmonia leva a desenvolver sintonias viciosas com outras mentes doentias, seja de desencarnados ou encarnados, o que aguça sobremaneira nosso próprio desarranjo interior, resultando daí as ingentes dificuldades para nos libertarmos das algemas em que nos aguilhoamos ante as garras do mal.  
Na intimidade do lar, da família ou do Centro Espírita, do ambiente de trabalho profissional, adversários ferrenhos do pretérito se reencontram. Convocados pelos Benfeitores do Além ao reajuste, raramente conseguem superar a aversão de que se veem possuídos uns à frente dos outros, e (re)alimentam com paixão, no imo de si mesmos, os raios tóxicos da antipatia que, concentrados, se transformam em pontiagudos dardos magnéticos, suscetíveis de provocar a enfermidade e a própria morte.  
A obsessão espiritual é sintonia ou troca de vibrações afins. Kardec define obsessão como a ação persistente que um Espírito inferior exerce sobre um indivíduo, apresentando caracteres variados que vão desde a simples influência moral, sem sinais exteriores perceptíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. A obsessão é o encontro de forças inferiores retratando-se entre si.  


AS MÚLTIPLAS FACETAS DA OBSESSÃO.
Há quadros de obsessões explodindo por todos os lados em todos os níveis, quais sejam de desencarnados sobre encarnados e vice-versa; de encarnados sobre encarnados, bem como de desencarnados sobre desencarnados.  
Nosso mundo mental rege a vida que nos é peculiar em todas as suas dimensões, contudo, nos encontramos ainda no início do entendimento das implicações da força mental, do significado e abrangência das construções mentais na vida. Os obsessores são hábeis e inteligentes, perfeitos estrategistas que planejam cada passo e acompanham as presas por algum tempo, observando suas tendências, seus relacionamentos, seus ideais. Identificam seus pontos vulneráveis (quase sempre ligados ao descaminhamento sexual) e os exploram pertinazes. 
O pensamento exterioriza-se e projeta-se, formando imagens e sugestões que arremessa sobre os objetivos que se propõe atingir. Quando bom e edificante, ajusta-se às Leis que nos regem, criando harmonia e felicidade, todavia, quando desequilibrado e deprimente, estabelece aflição e ruína. A química mental vive na base de todas as transformações, porque realmente evoluímos em profunda comunhão telepática com todos aqueles encarnados ou desencarnados que se afinam conosco.  
Nosso universo mental é como um céu, mas do firmamento descem raios de sol e chuvas benéficas para a vida planetária, assim como, no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu procedem faíscas elétricas destruidoras. Da mesma forma funciona a mente humana. Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de células do organismo físico, mas, quando perturbada, emite raios magnéticos de elevado teor destrutivo para a nossa estrutura psíquica.  
O mestre lionês redarguiu dos Espíritos, na questão 466 d' O Livro dos Espíritos, por que permite Deus que os obsessores nos induzam ao mal? Os Espíritos responderam: "Os seres imperfeitos são instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens na prática do bem. Como Espírito, deveis progredir na ciência do infinito, razão por que passais pelas provas do mal, a fim de chegardes ao bem. Nossa missão é a de colocar-vos no bom caminho e quando más influências agem sobre vós, é que as atraís, pelo desejo do mal. Os Espíritos inferiores vêm em vosso auxílio no mal, sempre que desejais cometê-lo; e só vos podem ajudar no mal quando quereis o mal. Então, se vos inclinardes para o assassínio, tereis uma nuvem de Espíritos que vos alimentarão esse pendor. Entretanto, tereis outros que procurarão influenciar-vos para o bem. Assim se restabelece o equilíbrio e ficais senhor de vós mesmos”. 

RENOVAÇÃO MORAL COMO BASE PARA A DESOBSESSÃO ESPIRITUAL.
O venerável Codificador, em O Livro dos Médiuns, afirma que as imperfeições morais dão acesso aos obsessores e o meio mais seguro de nos livrarmos deles é atrair os bons Espíritos pela prática do bem. A obsessão é impotente diante de Espíritos redimidos! E o que é um Espírito redimido? É aquele que reconhece as suas limitações e, como enunciado pelo apóstolo Paulo, sente a alegria de saber-se "matriculado na escola do bem”. 
Esse desarranjo psicoespiritual deverá ser eliminado da sociedade no instante em que o lídimo exemplo do amor for experimentado e disseminado em todas as direções, consoante Jesus consubstanciou e vivenciou até as agruras da morte, prosseguindo desde tempos apostólicos até os dias atuais.  
O Espiritismo, desvendando a intervenção dos Espíritos endurecidos no mal em nossas vidas, lança luzes sobre questões ainda desconsideradas pelas ciências materialistas como de causa psicopatológica.
Muitas vezes procurado pelos obsidiados, o Cristo penetrava psiquicamente nas causas da sua inquietude e, usando de sua autoridade moral, libertava tanto os obsessores quanto os obsidiados, permitindo-lhes o despertar para a vida animada rumo à recuperação e à pacificação da própria consciência. Porém, é muito importante lembrar que Jesus não libertou os obsidiados sem lhes impor a intransferível necessidade de renovação íntima, nem expulsou os perseguidores inconscientes sem fornecer-lhes o endereço de Deus. 
Conclusão 
Em síntese, identificamos sempre na obsessão (espiritual) o resultado da invigilância e dos desvios morais. Para garantir-nos contra a sua influência urge fortalecer a fé pela renovação mental e pela prática do bem nos moldes dos códigos evangélicos propostos por Jesus Cristo, não nos esquecendo dos divinos conselhos do Vigiai e Orai.

Bibliografia consultada: 
Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001, cap. V, item 25.
Dicionário Aurélio eletrônico; século XXI. Rio de Janeiro, Nova Fronteira e Lexicon Informática, 1999, CD-rom, versão 3.0.
Xavier, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. Dominação Telepática.

domingo, 22 de abril de 2012


 A HOMOSSEXUALIDADE NA VISÃO ESPÍRITA

(Parte 2 e final)
 

Allan Kardec elucida a questão na Revista Espírita. Emmanuel esclarece sobre o tema em Vida e Sexo e Chico Xavier opina sobre o assunto



André Luiz no livro Ação e Reação 
Dando prosseguimento ao desenvolvimento do tema, apresentaremos da obra Ação e Reação, psicografada pelo médium Chico Xavier, esclarecimentos formulados pelo Benfeitor Espiritual André Luiz no capítulo 15, que tem por título “Anotações Oportunas”. Nele, ele relata que Hilário, seu companheiro de estudos na espiritualidade, em certa oportunidade indagou do Assistente Silas sobre os problemas inquietantes da inversão sexual.
“Silas deu-se pressa em aclarar e disse: — Não será preciso alongar elucidações. Considerando-se que o sexo, na essência, é a soma das qualidades passivas ou positivas do campo mental do ser, é natural que o Espírito acentuadamente feminino se demore séculos e séculos nas linhas evolutivas da mulher, e que o Espírito marcadamente masculino se detenha por longo tempo nas experiências do homem. Contudo, em muitas ocasiões, prosseguiu Silas dizendo, quando o homem tiraniza a mulher, furtando-lhe os direitos e cometendo abusos, em nome de sua pretensa superioridade, desorganiza-se ele próprio a tal ponto que, inconsciente e desequilibrado, é conduzido pelos agentes da Lei Divina a renascimento doloroso, em corpo feminino, para que, no extremo desconforto íntimo, aprenda a venerar na mulher sua irmã e companheira, filha e mãe, diante de Deus, ocorrendo idêntica situação à mulher criminosa que, depois de arrastar o homem à devassidão e à delinquência, cria para si mesma terrível alienação mental para além do sepulcro, requisitando, quase sempre, a internação em corpo masculino, a fim de que, nas teias do infortúnio de sua emotividade, saiba edificar no seu ser o respeito que deve ao homem, perante o Senhor.
Nessa definição, porém, não incluímos os grandes corações e os belos caracteres que, em muitas circunstâncias, reencarnam em corpos que lhes não correspondem aos mais recônditos sentimentos, posição solicitada por eles próprios, no intuito de operarem com mais segurança e valor, não só o acrisolamento moral de si mesmos, como também a execução de tarefas especializadas, através de estágios perigosos de solidão, em favor do campo social terrestre que se lhes vale da renúncia construtiva para acelerar o passo no entendimento da vida e no progresso espiritual.”  


André Luiz no livro Sexo e Destino 
O Benfeitor Espiritual André Luiz também aborda na obra Sexo e Destino, psicografada por Chico Xavier, a questão da homossexualidade, no capítulo IX da segunda parte, ao participar de um encontro para estudos no Instituto de Renovação “Almas Irmãs”, dirigido pelo Instrutor Espiritual Félix, para Espíritos necessitados de reeducação sexual após a desencarnação.
Relata André Luiz que Félix, explanando sobre as ideias que diversos participantes aventavam, historiou, em síntese, que na Espiritualidade Superior o sexo não é considerado unicamente por baliza morfológica do corpo de carne, distinguindo macho e fêmea, definição unilateral que, na Terra, ainda se faz seguir de atitudes e exigências tirânicas, herdadas do com­portamento animal.  
Entre os Espíritos desencarnados, a partir daqueles de evolução mediana, o sexo é categorizado por atributo divino na individualidade humana, qual ocorre com a inteligência, com o sentimento, com o raciocínio e com faculdades outras, até agora menos aplicadas nas técnicas da experiência humana. Quanto mais se eleva a criatura, mais se capacita de que o uso do sexo demanda discernimento pelas responsabilidades que acarreta.
Qualquer ligação sexual, instalada no campo emotivo, engendra sistemas de compensação vibratória, e o parceiro que lesa o outro, até o ponto em que suscitou os desastres morais consequentes, passa a responder por dívida justa.
Todo desmando sexual danificando consciências reclama corrigenda, tanto quanto qualquer abuso do raciocínio. Homem que abandone a companheira sem razão ou mulher que assim proceda, gerando desregramentos passionais na vítima, cria certo ônus cármico no próprio caminho, pois ninguém causa prejuízo a outrem sem embaraçar a si mesmo. 


Renovando conceitos 
Félix vaticinou que a Terra, a pouco e pouco, renovará princípios e conceitos, diretriz e legislação, em matéria de sexo, sob a inspiração da Ciência, que situará o problema das relações sexuais no lugar que lhe é próprio. Empenhou-se a repetir que na Crosta Planetária os temas sexuais são levados em conta na base dos sinais físicos que diferenciam o homem da mulher e vice-versa; no entanto, ponderou que isso não define a realidade integral, porquanto, regendo esses marcos, permanece um Espírito imortal, com idade às vezes multimilenária, encerrando consigo a soma de experiências complexas, o que obriga a própria Ciência terrena a proclamar, presentemente, que masculinidade e feminilidade totais são inexistentes na personalidade humana, do ponto de vista psicológico.
Homens e mulheres, em espírito, apresentam certa percentagem mais ou menos elevada de característicos viris e feminis em cada indivíduo, o que não assegura possibilidades de comportamento íntimo normal para todos, segundo a conceituação de normalidade que a maioria dos homens estabeleceu para o meio social.
Tendo Neves, um dos participantes da reunião, formulado consulta sobre os homossexuais, o Instrutor Félix demonstrou que inúmeros Espíritos reencarnam em condições inversivas, seja no domínio de lides expiatórias ou em obediência a tarefas específicas, que exigem duras disciplinas por parte daqueles que as solicitam ou que as aceitam.
Referiu ainda que homens e mulheres podem nascer homossexuais ou intersexos (um ser que possui órgãos dos dois sexos), como são suscetíveis de retomar o veículo físico na con­dição de mutilados ou inibidos em certos campos de manifestação, aditando que a alma reencarna, nessa ou naquela circunstância, para melhorar e aperfeiçoar-se e nunca sob a destinação do mal, o que nos constrange a reconhecer que os delitos, sejam quais sejam, em quaisquer posições, correm por nossa conta.
À vista disso, Félix destacou que nos foros da Justiça Divina, em todos os distritos da espiritualidade superior, as personalidades humanas tachadas por anormais são consideradas tão carecentes de proteção quanto as outras que des­frutam a existência garantidas pelas regalias da normalidade, segundo a opinião dos homens, observando-se que as faltas cometidas pelas pessoas de psiquismo julgado anormal são examinadas no mes­mo critério aplicado às culpas de pessoas tidas por normais, notando-se, ainda, que em muitos casos os desatinos das pessoas supostas normais são con­sideravelmente agravados, por menos justificáveis perante acomodações e primazias que usufruem, no clima estável da maioria.  


Orientação de Chico Xavier 
No livro Kardec Prossegue, o médium mineiro, ao lhe ser perguntado seO homossexual deve-se aceitar ou deve lutar contra as suas tendências?”, respondeu o seguinte:
“Já li, de um analista de mérito, que toda amizade e que toda ligação espiritual, do ponto de vista afetivo, é parcela de homossexualidade no homem e na mulher; mas, o homossexual não poderá deixar a natureza de que é portador de um momento para outro como se ele estivesse condenado a não trabalhar, a não servir, quando nós sabemos que há tanto enfermeiro, tanto professor, tanta senhora digna que executam os deveres que lhe competem com muita eficiência e devotadamente.
Agora, o homossexual em si deve evitar a pederastia (relação sexual entre homens); a pederastia, sim, é um problema suscitado pela ânsia do homem de experimentar sensações, mas a homossexualidade está vinculada a um processo afetivo entre os homens e mulheres do planeta, de modo que é um estado natural em que as almas se afinam para fazer o bem.  
Já a pederastia é muito diferente. Quando nós falamos homossexual, lembramo-nos logo de quadros infelizes, mas a verdade é que a homossexualidade está em toda pessoa que tem um amigo ou que tem deveres de fraternidade, de assistência para com o próximo. A pederastia é que é o grande problema que devemos evitar e entender como sendo uma condição desnecessária e mesmo imprudente da parte de todos os homens.
E vamos dar ao assunto a cor que o assunto traz consigo: todo homem deve evitar a pederastia; toda mulher pode estar perfeitamente fora do lesbianismo (relação sexual entre mulheres), porque a nossa formação nos leva sempre para o caminho do que já fomos e às vezes nós viemos para não ser mais o que já fomos e sim para aprender a considerar o que devemos ser”.

Conclusão

Diante do que foi exposto nas Partes 1 e 2 deste artigo, apresentamos uma síntese do assunto abordado:


1. O Espírito não tem sexo.


2. O Espírito pode escolher encarnar num corpo de homem ou de mulher.


3. O sexo, na essência, é a soma das qualidades passivas ou positivas do campo mental do ser.


4. Abusos do homem para com a mulher, e vice-versa, provocam desequilíbrio e necessidade de encarnação na outra polaridade sexual, para valorização da condição masculina ou feminina.


5. Também existem inversões solicitadas por almas grandiosas para execução de tarefas específicas que exigem renúncia de si mesmo.


6. Na Espiritualidade Superior o sexo não é considerado unicamente por baliza morfológica do corpo de carne, distinguindo macho e fêmea.


7. Entre os Espíritos desencarnados, a partir daqueles de evolução mediana, o sexo é categorizado por atributo divino na individualidade humana.


8. O uso do sexo demanda discernimento pelas responsabilidades que acarreta.


9. Todo desmando sexual danificando consciências reclama corrigenda, tanto quanto qualquer abuso do raciocínio.


10. A realidade integral, regendo os marcos masculino e feminino, é do Espírito imortal, com idade às vezes multimilenária, encerrando consigo a soma de experiências complexas.


11. Os Espíritos reencarnam em condições inversivas, seja no domínio de lides expiatórias ou em obediência a tarefas específicas, que exigem duras disciplinas por parte daqueles que as solicitam ou que as aceitam.


12. Todo homem deve evitar a pederastia; toda mulher pode estar perfeitamente fora do lesbianismo, porque a nossa formação nos leva sempre para o caminho do que já fomos e às vezes nós viemos para não ser mais o que já fomos e sim para aprender a considerar o que devemos ser.
                                                                   

sexta-feira, 20 de abril de 2012


A HOMOSSEXUALIDADE NA VISÃO ESPÍRITA.
(Parte 1)
 

Allan Kardec elucida a questão na Revista Espírita.
 Emmanuel esclarece sobre o tema em Vida e Sexo e Chico Xavier opina sobre o assunto
 
Vamos começar o desenvolvimento desse tema com a pergunta formulada por Allan Kardec, Codificador do Espiritismo, na questão 200 de O Livro dos Espíritos, se os Espíritos têm sexo?

Os Benfeitores Espirituais responderam: "Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos”.

Os Espíritos deram essa resposta a Kardec, em razão do conceito que o homem tem de estar o sexo ligado à organização física. O homem distingue o masculino e o feminino como manifestação da forma e segundo o papel exercido na função reprodutora. Porém, não estende o seu pensamento sobre a verdadeira fonte das energias sexuais. Para ele, de modo geral, o sexo é apenas instrumento de prazer. Alguns há, no entanto, que buscam o sexo para a reprodução, por motivos diversos, mas sempre associados à busca do prazer dos sentidos.

É verdade que o uso do sexo é uma lei natural na esfera material, como observa o Espírito Alexandre, no capítulo 13 da obra Missionários da Luz, em que trata da reencarnação: "não há criação sem fecundação. As formas físicas descendem das uniões físicas. As construções espirituais procedem das uniões espirituais. A obra do Universo é filha de Deus. O sexo, portanto, como qualidade positiva ou passiva dos princípios e dos seres, é manifestação cósmica em todos os círculos evolutivos, até que venhamos a atingir o campo da Harmonia Perfeita, onde essas qualidades se equilibram no seio da Divindade”.
O tema na Revista Espírita
O Codificador do Espiritismo, na Revista Espírita de janeiro de 1866, no artigo publicado “As Mulheres Têm Alma?”, no final do 13º parágrafo, diz:

“(...) Aos homens e mulheres, são assim assinados deveres especiais, igualmente importantes na ordem das coisas; são dois elementos que se completam um pelo outro. Sofrendo o Espírito encarnado a influência do organismo, seu caráter se modifica conforme as circunstâncias e se dobra às necessidades e às exigências impostas pelo mesmo organismo. Esta influência não se apaga imediatamente após a destruição do invólucro material, assim como não perde instantaneamente os gostos e hábitos terrenos. Depois, pode acontecer que o Espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa. Somente quando chegado a um certo grau de adiantamento e de desmaterialização é que a influência da matéria se apaga completamente e, com ela, o caráter dos sexos. Os que se nos apresentam como homens ou como mulheres, é para nos lembrar a existência em que os conhecemos. Se essa influência se repercute da vida corporal à vida espiritual, o mesmo se dá quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova encarnação trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Se for avançado, será um homem avançado; se for atrasado, será um homem atrasado. Mudando de sexo, poderá então, em sua nova encarnação, conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e de certas mulheres. Assim, não existe diferença entre o homem e a mulher, senão no organismo material, que se aniquila com a morte do corpo. Mas quanto ao Espírito, à alma, o ser essencial, imperecível, ela não existe, porque não há duas espécies de almas. Assim quis Deus, em sua justiça, para todas as criaturas. Dando a todas um mesmo princípio, fundou a verdadeira igualdade. A desigualdade só existe temporariamente no grau de adiantamento; mas todos têm direito ao mesmo destino, ao qual cada um chega por seu trabalho, porque Deus não favoreceu ninguém à custa dos outros” (...).
Emmanuel em Vida e Sexo
Por meio da psicografia de Chico Xavier, o benfeitor espiritual Emmanuel, no capítulo 21 do livro Vida e Sexo, tece comentários em torno da homossexualidade, iniciando com a pergunta 202 de O Livro dos Espíritos:

“— Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?”

A resposta dos Benfeitores Espirituais a essa indagação foi a seguinte:

“— Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar.”

Depois de destacar inicialmente essa questão de O Livro dos Espíritos, o Espírito Emmanuel considera:

“A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns círculos de ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas, mas é perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação”.

Observada a ocorrência, mais com preconceitos da sociedade, constituída na Terra pela maioria heterossexual, do que com as verdades simples da vida, essa mesma ocorrência vai crescendo de intensidade e de extensão, com o próprio desenvolvimento da Humanidade, e o mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de irmãos em experiência dessa espécie, somando milhões de homens e mulheres, solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos às criaturas heterossexuais.

A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinquência.
Fenômeno da bissexualidade
“A vida espiritual pura e simples se rege por afinidades eletivas essenciais; no entanto, através de milênios e milênios, o Espírito passa por fieira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas.

O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acen¬tuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta.

À face disso, a individualidade em trânsito, da experiência feminina para a masculina ou vice-versa, ao envergar o casulo físico, demonstrará fatalmente os traços da feminilidade em que terá estagiado por muitos séculos, em que pese o corpo de formação masculina que o segregue, verificando-se análogo processo com referência à mulher nas mesmas circunstâncias.

Obviamente compreensível, em vista do exposto, que o Espírito no renascimento, entre os homens, pode tomar um corpo feminino ou masculino, não apenas atendendo-se ao imperativo de encargos particulares em determinado setor de ação, como também no que concerne a obrigações regenerativas.”
Consequência dos abusos
“O homem que abusou das faculdades genésicas, arruinando a existência de outras pessoas com a destruição de uniões construtivas e lares diversos, em muitos casos é induzido a buscar nova posição, no renascimento físico, em corpo morfologicamente feminino, aprendendo, em regime de prisão, a reajustar os próprios sentimentos, e a mulher que agiu de igual modo é impulsionada à reencarnação em corpo morfologicamente masculino, com idênticos fins.

E, ainda, em muitos outros casos, Espíritos cultos e sensíveis, aspirando a realizar tarefas específicas na elevação de agrupamentos humanos e, consequentemente, na elevação de si próprios, rogam dos Instrutores da Vida Maior que os assistem a própria internação no campo físico, em vestimenta carnal oposta à estrutura psicológica pela qual transitoriamente se definem.

Escolhem com isso viver temporariamente ocultos na armadura carnal, com o que se garantem contra arrastamentos irreversíveis, no mundo afetivo, de maneira a perseverarem, sem maiores dificuldades, nos objetivos que aí traçaram.”
Amparo educativo
“Observadas as tendências homossexuais dos companheiros reencarnados nessa faixa de prova ou de experiência, é forçoso se lhes dê o amparo educativo adequado, tanto quanto se administra instrução à maioria heterossexual. E para que isso se verifique em linhas de justiça e compreensão, caminha o mundo de hoje para mais alto entendimento dos problemas do amor e do sexo, porquanto, à frente da vida eterna, os erros e acertos dos irmãos de qualquer procedência, nos domínios do sexo e do amor, são analisados pelo mesmo elevado gabarito de Justiça e Misericórdia. Isso porque todos os assuntos nessa área da evolução e da vida se especificam na intimidade da consciência de cada um.”
Chico Xavier responde
No livro A Terra e o Semeador, o médium mineiro, ao lhe ser perguntado: “Como nossos Amigos Espirituais conceituam o problema homossexual?”, respondeu o seguinte:

“O problema da homossexualidade sempre existiu em todas as nações, no entanto, com a extensão demográfica no Planeta, o assunto adquiriu características de grande intensidade, ou de mais intensidade, porque, nos últimos 50 anos, a ciência psicológica tem-se preocupado detidamente e com razão, no que se refere aos ingredientes mais íntimos da nossa natureza pessoal.

“Estamos efetuando a descoberta de nós mesmos, para além dos padrões psicológicos conhecidos ou milimetrados pelos conhecimentos que possuímos, dentro dos preceitos respeitáveis, que nos regem o comportamento social e humano. No caso, é justo observar que os impositivos da disciplina e da educação devem oferecer-nos barreiras construtivas para que o abuso não destrua quaisquer benefícios estabelecidos em leis.”

CAUSAS E TENDÊNCIAS
“Cremos que tendências à homossexualidade surgem na criatura após muitas existências dessa mesma criatura nas condições de feminilidade ou vice-versa. Pensamos assim, na base da reencarnação, porquanto, além dos sinais morfológicos, a individualidade é a própria individualidade em si, com todas as suas experiências das existências anteriores. Em vista disso, a homossexualidade pode ser examinada hoje proporcionando ao homem vasto campo de estudos, quanto à natureza bissexual do Espírito.

“O tema é, porém, objeto para simpósios de cientistas, e instrutores da Humanidade, até que possamos encontrar a fórmula exata para decidir do ponto de vista legal, quanto ao destino dos nossos companheiros num sexo ou noutro, que trazem a inversão por clima de trabalho a ser laboriosamente valorizado pela pessoa que se faz portadora de semelhante condição para determinadas tarefas.

“Sabemos que grandes civilizações, como por exemplo, a civilização greco-romana, depois de alcançarem avanço espetacular no campo da inteligência, ao perquirirem a natureza complexa do homem, encontraram problemas de sexo muito profundos, que os legisladores de então não quiseram ou não puderam reconhecer. Esses problemas, no entanto, explodindo sem a cobertura de preceitos legais, em plenitude de intemperança nas manifestações afetivas, cooperaram na decadência de ambas as civilizações, grega e romana, que se perderam no tempo, sob o ponto de vista de respeitabilidade e domínio.

“Esperemos que os Mensageiros da Vida Maior inspirem os nossos dignos representantes da Ciência e da Justiça na Terra para que a solução do problema apareça oportunamente, favorecendo a paz e a concórdia nos vários campos de evolução da Humanidade.“

(O presente artigo será concluído na próxima edição.)

domingo, 15 de abril de 2012


A LEI DE ANENCÉFALO

Acabou de ser noticiado que foi aprovado a lei que permite a mulher interromper a gravidez se comprovada á ausência de cérebro no feto. Infelizmente só o Ministro Ricardo Lewandowiski se posicionou contra. Parabéns ao Ministro que levou até as últimas consequências seus princípios e a sua formação Cristã.
De acordo com a Filosofia Espírita, mas especificamente o Livro dos Espíritos* de Alan Kardec livro com 1019 perguntas e respectivas respostas para as mais diversas indagações da vida, fui conferir e separei abaixo as seguintes perguntas do capítulo VII, muito relacionadas às questões em destaque no momento, com suas respectivas respostas;

334- A união da alma com este ou aquele corpo é predestinada, ou a escolha se faz apenas no último momento?
– O Espírito é sempre designado antes. Ao escolher a prova por que deseja passar, pede para encarnar; portanto, Deus, que tudo sabe e tudo vê, sabe e vê antecipadamente que alma se unirá a qual corpo

.335- O Espírito faz a escolha do corpo em que deve encarnar, ou apenas do gênero de vida que lhe deve servir de prova?
– Pode escolher o corpo, já que as imperfeições desse corpo são para ele provas que ajudam no seu adiantamento, se vencer os obstáculos que aí encontra. Embora possa pedir a escolha nem sempre depende dele

.344- Em que momento a alma se une ao corpo?
– A união começa na concepção, mas só se completa no instante do nascimento. No momento da concepção o Espírito designado para habitar determinado corpo se liga a ele por um laço fluídico e vai aumentando essa ligação cada vez mais, até o instante do nascimento da criança. O grito que sai da criança anuncia que ela se encontra entre os vivos e servidores de Deus.

347- Que utilidade pode ter para um Espírito sua encarnação num corpo que morre poucos dias após seu nascimento?
– O ser não tem a consciência inteiramente desenvolvida de sua existência e a importância da morte é para ele quase nula. É muitas vezes, como já dissemos uma prova para os pais

.355- Há, como indica a ciência, crianças que, desde o ventre materno, não têm possibilidades de viver? Qual o objetivo disso?
– Isso acontece freqüentemente; a Providência o permite como prova para seus pais ou para o Espírito que está para reencarnar

.358- O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da concepção?
– Há sempre crime quando se transgride a Lei de Deus. A mãe, ou qualquer outra pessoa, cometerá sempre um crime ao tirar a vida de uma criança antes do seu nascimento, porque é impedir a alma de suportar as provas das quais o corpo devia ser o instrumento.
                                                                     
   XX
Lendo e estudando essas questões de explicações claríssimas e coerentes não posso ficar alheia ao assunto e ainda saliento que uma vez aprovada essa lei foi aberta uma brecha onde poderão profissionais de má fé construírem laudos falsos e promoverem abortos indiscriminadamente sob a desculpa de má formação.
È cômodo pensar que cada um responde por si e vai colher o que plantar, mas “ai daquele por quem o escândalo venha” já disse Jesus. Uma vez aprovada a lei, todos os que concordarem com ela estarão compactuando com a ação consequente.
Eu até concordaria de que só vai fazer o aborto quem quiser e não será forçada a fazê-lo só porque existe uma lei. Aquela mulher que tiver respeito à vida, a respeitará sob qualquer circunstancia, porém todos sabem que as facilidades favorecem aqueles que se propõe a induzir pessoas de vontade fraca, e isso tem muito por ai.
Daí só nos resta parabenizar o Ministro Ricardo Lewandowisk e lamentar por todos os outros que se tornaram cúmplices de todos os crimes que se efetuarão alicerçados nas suas assinaturas.
*Acesso ao Livro dos Espíritos

quinta-feira, 12 de abril de 2012


         Viagem Espírita em 1862,

      cento e cinquenta anos depois

O livro acima e A Obsessão, ambos traduzidos por Wallace



Leal V. Rodrigues, trazem subsídios valiosos para o fortalecimento dos grupos espíritas


É um grande prazer apreciar os prefácios elaborados por Wallace Leal V. Rodrigues – que foi redator chefe da Casa Editora O Clarim, de Matão-SP, por bom tempo, nas décadas de 60 a 80 –, especialmente quando se referem a obras de Kardec, que ele mesmo traduziu diretamente dos originais franceses.
É o caso de Viagem Espírita em 1862 e A Obsessão, ambas traduzidas, prefaciadas e editadas no final da década de 60 por aquela editora.


A primeira – que está comemorando 150 anos desde o seu lançamento – traz os pronunciamentos do próprio Allan Kardec a grupos espíritas que ele visitou em viagens de divulgação doutrinária realizadas, como o próprio nome diz, no ano de 1862. A segunda apresenta inúmeros casos de obsessão acompanhados pelo Codificador, com seus comentários, análises e, óbvio, muitos ensinamentos na ampliação do assunto.


Selecionamos para os nossos leitores alguns trechos de dois prefácios do tradutor, seja pela expressão do texto, seja pela oportunidade de sempre lembrar Kardec.


Em A Obsessão, Wallace comenta:


‘(...) No livro que iremos ler, Kardec reúne casos de obsessões manifestadas não apenas em indivíduos, mas também em grupos, tal o de Morzines. Trata-se, pois, de um comportamento social, isto é, de uma delicada textura tal as maneiras como seres humanos – os Espíritos são seres humanos! – se ajustam ou não se ajustam ao meio social, neste caso provocando toda a gama de desequilíbrios que Kardec com tão grande felicidade cataloga ao vivo. (...)


Ocorrência importante a ser enfatizada, principalmente no meio espírita, onde se tem por lema que “o verdadeiro espírita reconhece-se por sua reforma íntima”, é que não estamos completamente cônscios da maioria das nossas “atitudes” nem da extensa influência que elas têm sobre o nosso comportamento social. Mas, através da tão citada “vigilância”, numa análise detalhada, podemos localizar o funcionamento de certas “atitudes” em nós mesmos. E não esqueçamos de que já agora, ou amanhã, na qualidade de Espíritos, poderemos, conforme nossa “atitude”, ser classificados como “obsessores”.


À primeira vista a mudança de “atitudes” poderá parecer uma questão simples, e este é o erro
Através de relampejos introspectivos das “atitudes” que funcionam em nós, tornamo-nos sensíveis às “atitudes” de outras mentes, vestidas de carne ou não. Mas sucede que num ou noutro caso nem sempre as pessoas revelam abertamente suas “atitudes”! De fato, elas aprendem, através de experiências com outros, a manter algumas de suas “atitudes” escondidas dos conhecimentos casuais ou mesmo dos amigos mais íntimos. Em virtude desse fato vamos usar o termo “tendência de reação”, em lugar de “reação”, apenas para o terceiro componente das “atitudes”, a fim de indicar que estas não se encontram necessariamente expressas no comportamento ostensivo. E porque isso se dá, o êxito da interação social redunda, frequentemente, no talento para inferir ou reduzir a natureza dos pensamentos, sentimentos e tendências reativas dos outros, a partir de indícios muito sutis de comportamento. Na realidade é uma característica comum do pensamento humano fazer inferências sobre as “atitudes” dos outros e regular nossas próprias ações em conformidade. Com base em limitadas e diminutas amostras do comportamento dos outros, poderemos concluir se, digamos, tratamos com pessoa liberal, compreensiva, destituída de preconceitos, e reagirmos, então, de maneira que considerarmos mais apropriada. Mas, embora todos nós façamos deduções, as pessoas diferem na capacidade de fazê-las corretamente. (...)
À primeira vista a mudança de “atitudes” poderá parecer uma questão simples, e este é o erro em que costuma incidir a maioria dos doutrinadores de sessões de desobsessão. Pensamos que, uma vez que as “atitudes” são aprendidas, deveria ser bastante fácil modificar a intensidade delas ou substituir uma “atitude indesejável” mediante a aprendizagem de outra. O fato complicado porém é que as “atitudes” não são modificadas ou substituídas com a mesma facilidade com que são aprendidas. (...)
O individuo crédulo caracteriza-se por uma acentuada dependência de outras pessoas e uma incapacidade notória para apreciar de modo crítico as proposições alheias. Essa combinação de características torna-o especialmente inclinado a adotar as crenças dos outros ou quaisquer proposições apresentadas com autoridade.


O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns tinham-se constituído desde logo em êxitos de livraria


No outro extremo situa-se o indivíduo altamente resistente à persuasão, a quem falta, frequentemente, a capacidade de compreender o material comunicado. É habitualmente negativo à autoridade, rígido e obtuso em seu pensamento e voluntariamente desatento a novas ideias, de onde a necessidade, por parte das Divinas Leis que nos regem, do imperativo da Dor como derradeiro recurso de persuasão para o Bem. (...)


Por tudo isto Jesus propõe tão seriamente o “orai e vigiai”. (...)’


Já em Viagem Espírita em 1862, lemos:


‘(...) é o próprio Codificador, lúcido e desperto, que se encarrega de iniciar a divulgação das verdades espíritas através das tribunas. Em seguida a ele, em perfeita coordenação, surgirá Léon Denis.


Em um como em outro, e tal como sucede ainda em nossos dias, a preocupação se converge para uma ética que, em sendo, até certo ponto, patrimônio das mais antigas culturas, era, praticamente, apenas “letra que mata”; agora vai ser “espírito que vivifica”, subversiva no sentido de arremeter do exterior para o interior, da teoria para a ação. Seu caráter renovador torna-a evangelicamente desmistificada e autenticamente apostolar, o que nos leva a estabelecer a comparação com o livro dos “Atos”, essa crônica de viagem, durante a qual os inúmeros personagens têm, o tempo todo, os lábios entreabertos, como que preparados para traduzir em palavras o pensamento da Boa Nova, em especulações sobre ações passadas e presentes, que se acumulam em seus espíritos com a força do rio comprimido contra as paredes de uma barragem.


Esta “Viagem Espírita de 1862” é qualquer coisa de semelhante e assim Allan Kardec nela se comporta. (...)


“O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns” tinham-se constituído, desde os seus lançamentos, em êxitos de livraria, e o seu autor se fez, de imediato, notado. Dilacerada por uma acabrunhante tristeza, a Humanidade disputava pensamentos capazes de oferecer uma nova e veraz interpretação para tudo quanto pudesse ser julgado de real importância. As religiões apresentavam os sinais de uma incurável senilidade e deixavam de ser o “freio” esterilizante; mas a ética que tresandava do ensino comunicado pelos Espíritos Superiores podia ser considerada não como “uma religião”, mas a própria “Religião”, surgindo de uma tenebrosa noite sufocada pelo fumo acre que tresandava a carne humana assada nas fogueiras.


Em Lyon ocorreu o primeiro encontro de dirigentes espíritas: de um lado, Dijou; de outro, Kardec


O seu símbolo não era o “freio”, porém a “chave”, e nisso estava implícito ao mesmo tempo uma esperança e uma ameaça. Havia algo de esgotante e doentio naquele decisivo século XIX, em que o homem alcançara o superlativo de uma técnica elaborada em um suceder inimaginável de gerações: a de amar tão bem, amando tão pouco. (...)


Noite! 19 de setembro de 1860. Kardec é recebido no Centro Espírita de Broteaux, o único existente em Lyon. À porta esperam-no Dijou, operário, chefe de oficinas, e sua esposa.


Este é, na História, o primeiro encontro de dirigentes espíritas. Dijou encontra-se à testa do grupo lionês; Kardec desempenha as funções maiores na “Societé” parisiense. A mão do emérito pensador aperta vigorosamente os dedos calosos e ásperos do companheiro, a quem chama “irmão”. No olhar grave que trocam vê-se que mutuamente se entendem: embora em planos diferentes, suas responsabilidades se equivalem.


Transpostos os portais, o coração de Kardec se rejubila. O “milagre” a que tantas vezes já fizera menção, sempre com arrebatamento e orgulho, o grande feito que compete à doutrina espírita realizar, consubstancia-se ali, ante seus olhos; e é um mentor espiritual, Erasto, em sublime epístola dirigida à comunidade lionesa, quem vai encontrar palavras para vestir a emoção do Codificador: "Não podeis imaginar quanto nos é doce e agradável presidir ao vosso banquete, onde o rico e o operário se abraçam, bebendo à fraternidade!”.


Kardec dirige-se à tribuna singela e o Centro Espírita de Broteaux, pelo futuro em fora, será lembrado como o local da pira. Ali é aceso o fogo sagrado que empunharão, através dos séculos, todos aqueles que se compromissaram, mesmo ao preço de injúrias, suor e lágrimas, a divulgar as glórias do Espiritismo pela bênção da palavra. (...)


No outono de 1862 deixa Paris para sua terceira viagem de propaganda espírita. Esta será a mais extensa a ser feita em toda a sua vida e se alongará até Bordeaux. Precisa constatar o processo de fermentação. O mundo do homem encarnado era um mundo enfermo que se tentava analisar dentro dos quadros da psicologia ou da filosofia. Mas tudo aquilo era susceptível de mais de uma explicação.


Os conceitos contidos em Viagem Espírita em 1862 continuam atuais e fundamentais à conduta dos espíritas


Kardec preparou, com zelo habitual, o material de sua oratória e, de fato, o seu tema de eleição está, melhor do que nunca, expresso no legado dessa viagem.


Tudo quanto vai dizer é fruto de uma experiência pessoal. Essa experiência caminha para nós e a voz que a expressa, apesar dos anos, nada tem de debilidade. Entre o homem e sua felicidade, ergue-se a Sombra, a terrível paixão: o Egoísmo. Isto é uma espécie de grito que precisa ser mil vezes repetido, até que o grande obstáculo, a Sombra, seja reconhecida como o pior dos inimigos. Enquanto isso não se faça todos estaremos excluídos da felicidade que desejamos partilhar. (...)


André Moreil, o mais recente biógrafo de Kardec, comenta a “Viagem Espírita em 1862” nos seguintes termos: “Essa grande viagem foi, mais tarde, publicada em obra especial, que se tornou auxiliar indispensável aos grupos espíritas, tanto no que concerne à doutrina, quanto no que diz respeito à organização e administração das sociedades espíritas”.


Cremos que este livro não foi, até o momento, editado em língua portuguesa. Lançamo-lo não apenas por sua alta qualidade doutrinária, mas ainda como uma adesão da “Casa de Cairbar Schutel” às comemorações do 1º Centenário de Desencarne de Allan Kardec, ocorrido em 1869.


Os conceitos nele contidos são tão atuais e frescos, tão fundamentais à boa conduta das entidades espíritas, que poderiam ter sido escritos em 1962. O leitor arguto e atento fará aqui mil descobertas de transcendental valor. Cem anos transcorridos, as instruções de Kardec são ainda perfeitamente aplicáveis e uma garantia para a pureza doutrinária. Caracterizam-se pela firmeza, lucidez e responsabilidade. Finalmente, o seu curioso modelo de Regulamento, o antepassado dos atuais estatutos das sociedades espíritas, é um exemplo de ponderação, de repulsa ao misticismo e uma revelação de alto espírito universalista.


A “Viagem Espírita em 1862” é obra em que, de singular maneira, o “homem” Allan Kardec se nos revela com sua consciência histórica e, em súbitos clarões, permite que o vejamos bem próximo de nós, o ser que já realizou o que intentamos, isto é, a substancial reforma interior que, só ela, possibilita a mágica interação: a criatura vivendo no Espiritismo, o Espiritismo vivendo na criatura