terça-feira, 22 de outubro de 2013

                                                   


Papel carbono
Para os encarnados é muito difícil captar todas as  nuanças e magnificências do Mundo Espiritual
 
 “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” -
Jesus (João, 10:10.)

A vida corporal, transitória, não passa de um “papel carbono” da vida Espiritual, esta sim, a verdadeira. Tal realidade é – insofismavelmente – demonstrada pelo testemunho dos próprios habitantes da Vida Maior, que, através dos canais mediúnicos, tentam nos dar uma ideia – ainda que bastante pálida – dos proscênios celestiais.  


Mas, para nós, encarnados, é muito difícil captar todas as nuanças e magnificências do Mundo Espiritual, uma vez que não temos parâmetros ou referenciais que nos auxiliem nessa compreensão.

 Sem embargo, os Espíritos tentam contornar essas limitações e vêm nos oferecer uma tênue ideia do ambiente onde vivem e para onde um dia nos transferiremos. 
A segunda parte do livro básico do Espiritismo “O Céu e o Inferno” contém um repositório farto desses testemunhos, como, por exemplo, o do Espírito que se identifica com nome de Sixdeniers

“Permaneci muito tempo sem me reconhecer, mas com a bênção de Deus e o auxílio dos que me cercavam, quando a luz se fez, inundou-me. 

Nada existe aqui de material; tudo fere os sentidos ocultos sem auxílio da vista ou do tato. Compreendeis? 

É uma admiração, porque não há palavras que a expliquem.

 Só a alma pode percebê-la. Bem feliz foi o meu despertar...
    
Imaginai que estais encerrado em calabouço infecto onde o vosso corpo, corroído pelos vermes até a medula dos ossos, se suspende por sobre ardente fornalha; que a vossa ressequida boca não encontra sequer o ar para refrescá-la; que o vosso Espírito aterrorizado só vê ao seu redor monstros prestes a devorá-lo; figurai-vos enfim tudo quanto um sonho fantástico pode engendrar de hediondo, de mais terrível, e transportai-vos depois e repentinamente a delicioso Éden. 

Despertai cercado de todos os que amastes e chorastes; vede, rodeando-vos, semblantes adorados a sorrirem de felicidade; respirai os mais suaves perfumes; desalterai a ressequida garganta na fonte de água viva; senti o corpo pairando no Espaço Infinito que o suporta e balouça, qual a flor da fronde se destaca aos impulsos da brisa; julgai-vos envolto no amor de Deus qual recém-nascidos no materno amor e tereis uma ideia, aliás, apenas imperfeita, dessa transição. 

Procurei explicar-vos a felicidade da vida que aguarda o homem depois da morte do corpo e não pude.

 Será possível explicar o infinito àquele que tem os olhos fechados à luz e que não pode sair do estreito círculo que o encerra?!”. 

Eis, agora, o relato da senhora Foulon, dirigindo-se a Kardec: “(...) considero-me feliz agora; estes míseros olhos que se enfraqueceram a ponto de me não deixarem mais que a recordação de coloridos prismas da juventude, de esplendor cintilante; estes olhos, digo, abriram-se aqui para rever horizontes esplêndidos, idealizados em vagas reproduções por alguns dos vossos geniais artistas, mas cuja exuberância majestática, severa e conseguintemente grandiosa, tem o cunho da mais completa realidade.    
(...) Depois do último alento, encontrei-me como que em desmaio, sem consciência do meu estado, não pensando em coisa alguma, numa vaga sonolência que não era bem o sono do corpo nem o despertar da alma. 

Nesse estado fiquei longo tempo, e depois, como se saísse de prolongada síncope, lentamente despertei no meio de irmãos que não conhecia.

 Eles prodigalizavam-me cuidados e carícias, ao mesmo tempo em que me mostravam no Espaço um ponto algo semelhante a uma estrela, dizendo: 

‘É para ali que vais conosco, pois já não pertences mais à Terra’. Apoiada sobre eles, formando um grupo gracioso que se lança para as esferas desconhecidas, mas na certeza de aí achar a felicidade, subimos, subimos, à proporção que a estrela se engrandecia...

 Era um mundo feliz, um centro superior no qual a vossa amiga vai repousar. 

Quando digo repouso, quero referir-me às fadigas corporais que amarguei, às contingências da vida terrestre, não à indolência do Espírito, pois que este tem na atividade uma fonte de gozos”. 

Uma condessa chamada Paula conta: “(...) O que é a felicidade terrena comparada à que desfruto aqui? Esplêndidas festas terrenas em que se ostentam os mais ricos paramentos, o que são elas comparadas a estas assembleias de Espíritos resplendentes de brilho que as vossas vistas não suportariam, brilho que é o apanágio da sua pureza? 

Os vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a estas moradas aéreas, vastas regiões do Espaço matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris?! 

Os vossos passeios, a contados passos nos parques, a que se reduzem, comparados aos percursos da imensidade, mais céleres que o raio?

 Horizontes nebulosos e limitados, que são, comparados ao espetáculo de mundos a moverem-se no Universo infinito ao influxo do Altíssimo? 

E como são monótonos os vossos concertos mais harmoniosos em relação à suave melodia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras d`alma!

E como são tristes e insípidas as vossas maiores alegrias comparadas à sensação inefável de felicidade que nos satura todo o ser como um eflúvio benéfico, sem mescla de inquietação, de apreensão, de sofrimento?! 

Aqui, tudo ressumbra amor, confiança, sinceridade: por toda parte corações amantes, amigos!”. 

A segunda parte do livro “O Céu e o Inferno” merece, como, aliás, toda a Codificação, acurado estudo, a fim de que possamos nos instruir acerca da realidade que nos aguarda...  

 Ali, mais do que nunca vamos, enfim, compreender o que o singular Apóstolo Paulo quis dizer ao escrever aos coríntios[1]:
 “Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”; vamos também entender em espírito e verdade a consoladora promessa de Jesus ao proclamar[2]: “Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte”.

Rogério Coelho  -  O Consolador                                                                          



[1] - Coríntios, 15:55.
[2] - João, 8:55.