segunda-feira, 17 de março de 2014

                                             ESPÍRITO NÃO TEM COR

[...] o corpo sim... Assim como a máxima "espírito não tem sexo" oculta várias discussões sobre sexualidade e gênero, e a sentença "espírito não tem idade" desconsidera questões sociais da juventude e da infância, a afirmativa título desse artigo acaba por servir ao mesmo propósito.

 Abstrair a questão do espírito, como uma coisa neutra, amorfa, descontextualizada, quase um anjo etéreo, é perigoso. Lembremos que uma das grandes inovações da obra Nosso Lar, de Francisco Cândido Xavier, foi apresentar a vida espiritual em um plano concreto, real. 

O espírito e a matéria não são coisas isoladas, pois na vida encarnada o espírito se relaciona diretamente com o mundo material, não em uma oposição, mas em uma relação complexa e orgânica.

Esse introito é para mostrar que a questão do racismo, atualmente em ampla discussão, também merece uma discussão no campo do Espiritismo. 

Em especial, o assunto vem à baila por força da decisão exarada recentemente por um Juiz Federal diante de uma ação popular, denegando o pedido de retirada de circulação do livro “Obras Póstumas”, de Allan Kardec, sob o argumento de nele existirem trechos que atentam contra a igualdade entre os povos e raças, em conflito com normas recentes e internacionalmente aceitas, atinentes ao assunto.

O racismo, o preconceito e as guerras por razões étnicas são construções sociais, de processos históricos longos e dolorosos. 

O nosso país vivenciou séculos de escravidão, em um processo de libertação dos escravos que não foi acompanhado de uma integração dessa massa de indivíduos à sociedade, relegando a eles a pobreza e a discriminação pelas suas práticas culturais, tendo sido perseguidas pela polícia a capoeira e as religiões de matrizes africanas, assim como foi o Espiritismo perseguido pelo governo no início do século XX.

Destarte, é impossível negar essa realidade. A cor da pele representou e representa forma de dominação e de superioridade entre pessoas, em um processo construído, assim como foram as construções religiosas que movimentaram e movimentam guerras. E essa discriminação anda por aí, em nossos corações e falas.

Sobre o assunto da decisão do juiz denegando o recolhimento de “Obras Póstumas”, vejo que a decisão do Juiz Federal foi sábia, bastando para isso ler a sua fundamentação. Essa questão, infelizmente, não é tão simples. 

O racismo está presente sim em várias obras literárias, por ser uma situação que foi aceita e estimulada pelo senso comum, inclusive em nosso país, desde longa data. 

Não é a primeira vez que uma obra clássica é arrolada nessa situação, como na famosa mudança de nome do romance de Agatha Cristie, “O caso dos dez negrinhos”, por solicitação dos herdeiros da referida escritora; e mesmo a recente polêmica sobre a obra “As caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato.

 Nesse sentido, Nota de 1º de junho de 2011 do Conselho Nacional de Educação (CNE/MEC) apresenta lúcido e interessante posicionamento, do qual transcrevo trechos a seguir:

“Uma sociedade democrática deve proteger o direito de liberdade de expressão e, nesse sentido, não cabe veto à circulação de nenhuma obra literária e artística. Porém, essa mesma sociedade deve garantir o direito à não discriminação, nos termos constitucionais e legais, e de acordo com os tratados internacionais ratificados pelo Brasil. 

Reconhecendo a qualidade ficcional da obra de Monteiro Lobato, em especial, no livro Caçadas de Pedrinho e em outros similares, bem como o seu valor literário, é necessário considerar que somos sujeitos da nossa própria época e responsáveis pelos desdobramentos e efeitos das opções e orientações políticas, pedagógicas e literárias assumidas no contexto em que vivemos.

 Nesse sentido, a literatura, em sintonia com o mundo, não está fora dos conflitos, das hierarquias de poder e das tensões sociais e raciais nas quais o trato à diversidade se realiza.”

O posicionamento em relação à obra lobatiana se encaixa como uma luva em relação à questão apontada na obra kardequiana. Obviamente, essas assertivas contidas em “Obras Póstumas” não desmerecem a figura de Allan Kardec, que pregou em seus textos a igualdade. 

Mas não podemos esquecer que Kardec era um ser humano, um homem do seu tempo, imerso em um contexto social. Sair disso é procurar santos encarnados.

Se julgássemos as obras básicas livros sagrados e imutáveis, escritas por seres atemporais e perfeitos, seríamos católicos e não espíritas. Kardec vivia em uma sociedade com valores e com uma visão de mundo próprios e isso pode vir a se expressar nos seus comentários, por motivos óbvios.

 Mas as análises da obra kardequiana não devem desconsiderar uma visão global. Podemos citar, por exemplo, a afirmativa na “Revista Espírita", em outubro de 1861, que se contrapõe totalmente a ideias racistas:

“O Espiritismo, restituindo ao espírito o seu verdadeiro papel na criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, apaga naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos de cor.” 

Considerando-se ainda trechos das obras básicas, outros reforçam o combate ao racismo, como em :

“Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher.

 De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que prime, em lógica, ao fato material da reencarnação.

 Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade.” (A Gênese.) 

Ou ainda em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no texto "O Homem de Bem", quando diz: "O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus".

Assim, ater-se a um trecho isoladamente, na discussão se o pensamento de Kardec no século XIX tinha traços de racismo é inócua, principalmente por não ser esse para nós um profeta infalível, considerando ainda que o Espiritismo superou esse modelo beatificador. Kardec rompeu com vários modelos daquela época, ainda que a polêmica citação faça jus a toda essa discussão, merecendo, em minha humilde opinião, uma nota explicativa, no entendimento consoante com a posição apresentada pelo Conselho Nacional de Educação. Para melhor exemplificar, segue um excerto do polêmico trecho:

“[...] Ela nos foi sugerida, assim como a sua solução, pela passagem seguinte de um livro muito interessante e muito instrutivo, intitulado: As revoluções inevitáveis no globo e na Humanidade, por Charles Richard.
[...] Passando à beleza das formas, assim se exprime, às páginas 44 e seguintes:

Somente, será bom não esquecer, nessa comparação, que aqui se trata de classes privilegiadas, sempre mais belas do que as outras, e que, consequentemente, os tipos modernos a se opor aos antigos deverão ser escolhidos nos salões, e não na espelunca. 

Porque a pobreza, ai!, em todos os tempos, e sob todos os aspectos, jamais foi bela, e é precisamente assim para nos fazer vergonha e nos forçar a dela nos libertar um dia.

[...] O negro pode ser belo para o negro, como um gato é belo para um gato; mas não é belo no sentido absoluto, porque os seus traços grosseiros, seus lábios espessos acusam a materialidade dos instintos; podem bem exprimir as paixões violentas, mas não saberiam se prestar às nuanças delicadas dos sentimentos e às modulações de um espírito fino.

[...] Tendo este artigo sido lido na Sociedade de Paris, foi objeto de um grande número de comunicações, apresentando todas as mesmas conclusões.” 

O texto de “Obras Póstumas” deixa claro que Kardec cita um artigo famoso na época e sua correspondente teoria (da beleza), comentando inclusive manifestações de espíritos sobre a questão. 

Por não se tratar de um ponto basilar da doutrina, por não ser a obra citada um “Livro Sagrado” interpretado ao pé da letra pelos espíritas e por ter sido uma citação de forma incidental, podemos concluir – assim como fez o Juiz – que realmente a infeliz sentença não espelha o pensamento kardequiano ou espírita, como corroborado em outras falas de sua obra. Mas isso não o exime de ser um trecho infeliz, ainda mais se interpretado em um contexto isolado.

A questão é que como toda religião tem um tomo sagrado, contendo a palavra de Deus, as pessoas, às vezes, atribuem à obra kardequiana esse sentido literal, o que realmente traria uma aspecto negativo a essa sentença, assim como a Bíblia, mormente o “Velho Testamento”, tem várias passagens sexistas, de discriminação da mulher. 

Nunca vi uma reflexão religiosa sobre essas visões nos ditos textos sagrados, mas estão ali preconceitos de hoje nos hábitos do povo hebreu de outrora, que pedem o espírito que vivifica e não a letra que mata.

O que não pode, a meu ver,  é que nós espíritas, por qualquer motivo, ignoremos que essa discriminação é um fato vivo, social e construído, ocultando-se na neutralidade de um Espírito sem cor. Temos sim responsabilidade com o combate a essa prática antifraterna, que não coaduna com nossos ideais cristãos.

A questão do racismo deve ser pauta de nossos estudos, das discussões da juventude e deve ser entendida como uma expressão do orgulho do ser humano. O Espiritismo deve apregoar a compreensão entre as manifestações culturais e religiosas, dentro da visão de que não serão essas questões que nos serão "cobradas" no retorno à espiritualidade.

O respeito é uma grande arma contra o racismo e devemos exercitá-lo, principalmente em relação aos irmãos de religiões de matriz africana, que, apesar das nítidas diferenças históricas e doutrinárias, têm seus cultos e liturgias que merecem o mesmo respeito e consideração que devemos às tradicionais missas e aos cultos evangélicos.

Confesso que o momento atual é de exaltação e que algumas manifestações soam agressivas quanto à questão do racismo. Mas são formas de trazer à baila a questão e provocar a reflexão coletiva... Essa exaltação se dá, pois a questão do racismo envolve um processo de segregação e de dor arrastado por gerações. Mas isso não nos exime da questão do preconceito, lembrando que a luta contra o racismo é a luta contra as diferenças e não a construção de diferenças – de ambos os lados.

Por fim, longe de esgotar o assunto, que visivelmente carece de produção literária na seara espírita, fica a questão de revisarmos a nossa vivência, o nosso discurso e acharmos ali o racismo escondido. 

Fundamental também olhar o passado, verificar que essas chagas não se fecharam todas e que as novas gerações, em um novo contexto, devem interpretar os clássicos – que recebem esse nome pelo seu valor – à luz das novas conceituações e das descobertas científicas, entendendo cada fala no seu tempo, mas sabendo que novos tempos demandam novas falas. 

A ação popular não pode ser fonte de ódio para o movimento espírita e sim de reflexão sobre essa importante questão, que deve ser enfrentada dentro de nós. Esconder-se dela, jamais!...

 MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA 


sexta-feira, 14 de março de 2014

                             COMO OS ANIMAIS DIZEM "EU TE MO"

Matéria de minha autoria publicada no Jornal Espírita de julho de 1989, intitulada 

“Veja como os animais dizem ‘te amo’”,

 recorre a um dos números da revista Superinteressante, da Editora Abril, onde encontrei a matéria 

“Assim os animais dizem “‘te amo’”, 

que mostra que eles costumam misturar ternura e agressividade em seu relacionamento amoroso, pois a Natureza os faz assim, para garantir que as espécies se reproduzam e sobrevivam.

 São fantásticos os truques de sedução entre eles, que os obrigam a estranhos rituais, marcados por lutas de vida e morte.

Nessa luta, o amor e o ódio se tocam.

 No jogo amoroso de um casal de rinocerontes, por exemplo,  machos e fêmeas dão-se encontrões violentos, como se estivessem fazendo guerra e não um simples momento de amor.

 Já os tigres, para chegarem ao acasalamento, o macho precisa de grande paciência para  acalmar a fêmea, que rosna, negaceia e dá-lhe patadas.

 Uma vez consumada a fecundação, ele precisará fugir rapidamente, pois a companheira tem uma única vontade: matá-lo.

Com as aranhas o romance pode ter um final trágico se o macho, geralmente menor e mais fraco, não tomar cuidado de se apresentar à sua escolhida com um  presente, um petisco, para saciar-lhe a fome.

 Os pica-paus machos também dão presentes às fêmeas para apaziguarem possíveis desentendimentos. 

Já as rãs são românticas e sexualmente liberadas, bastando ao macho manifestar seu desejo, coaxando de forma especial. 

Se a resposta vier no mesmo tom, é sinal verde para ele, que precisará arranjar um companheiro, pois os encontros amorosos da espécie são sempre coletivos, isto é: 

são necessários dois machos para pressionar o ventre da fêmea e ajudá-la a expulsar os ovos que serão fecundados.

 O leão disputa a namorada com  outros machos, a mordidas e patadas.

Como os humanos – Como acontece com a espécie humana, não é fácil a vida de um  macho conquistador, na espécie animal. 

Ele tem que ser corajoso fisicamente e dono de grande imaginação. 

Para chegar ao acasalamento, precisa passar por provas complicadas. 

É obrigado a cantar de forma especial, exibir plumagens elegantes, perfumes sedutores e praticar uma série de gestos que pareceriam ridículos em outras situações.

Além disso, precisa enfrentar batalhas de vida ou morte com outros machos interessados na mesma namorada, naquela que se constitui a sua paixão, que é a sua eleita.

 Em resumo: 
o traço característico do amor entre os animais é a agressividade, que tem profunda significação, pois se destina a proteger um território onde apenas um macho deve reinar.

 Um macho forte, para que se reproduzam  filhos igualmente fortes.

É também preciso ser forte para proteger as fêmeas e as crias, que não podem ser confundidas com as crias de outro casal. 

Os leões são assim; são bravos e mal-humorados com os estranhos e fazem tudo para defender o seu território.

 Essa agressividade tem que ter um controle, para que não leve a espécie ao extermínio. 

Assim, a Natureza dota os animais de bloqueios, para evitar que sua disposição para a luta não ultrapasse os limites da conveniência. 

Finalmente, a forma de vida das espécies está relacionada com a agressividade de seus membros: se os machos são pacíficos, formarão colônias; se é agressivo, forma um harém. 

 E se a agressividade parte de ambos, formarão um par capaz de manter longa união monogâmica.
A evolução do sentimento

 – No poema A Criação Divina, ditado por Castro Alves e recebido pelo médium Jorge Rizzini, há uma estrofe onde o poeta diz: “... E nele estava presente / O Princípio Inteligente, / - E a Vida, em forma latente, / Esperava atividade!.”
Nas  estrofes seguintes,  Castro Alves diz  que esse Princípio ativo,  com o fluido universal, gera o simples vegetal e a vida explode nos  mundos. 

E diz Deus onipresente  ao Princípio da matéria: 

“- Evoluir! És bactéria no charco e mares profundos!”

O ser unicelular desenvolve seu psiquismo e, nos ambientes vários, já não são protozoários, mas ativos operários com diferente organismo. 

 O Princípio Inteligente, com a Lei da Reencarnação, sofre mutação. Cresce nas águas, no solo, evolui nos campos, erra, é animal feroz na guerra.

 E sob o influxo das Leis Divinas, surge o homem da Caverna. Ilumina-se a Razão!

A evolução se faz lentamente, através dos milênios.

 No capítulo “Palavra e responsabilidade”,  do livro Evolução em dois Mundos, psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira,  André Luiz diz:

 “... Contudo, à medida que se lhe acentuava a evolução, a consciência fragmentária investia-se na posse de mais amplos recursos.

O lobo grita pelos companheiros na sombra noturna;

 o gato encolerizado mostra fúria característica, miando raivosamente; 

o cavalo relincha de maneira particular, expressando alegria ou contrariedade; 

a galinha emite interjeições adequadas para anunciar a postura, acomodar a prole, alimentar os pintinhos ou rogar socorro quando assustada,

 e o cão é quase humano, em seus gestos de contentamento e em seus gemidos de dor. 

Assim, a evolução atinge os alicerces da Humanidade”.

O mesmo André Luiz, no livro No Mundo Maior, psicografado por Chico Xavier, diz: “...

 Não somos criações milagrosas, destinadas ao adorno de um paraíso de papelão. 

Somos filhos de Deus e herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em experiência, de milênio e milênio. 

Não há favoritismo no Templo Universal do Eterno, e todas as forças da Criação aperfeiçoam-se no Infinito.

 A crisálida da consciência, que reside no cristal e rola na corrente do rio, aí se encontra em processo liberatório; 

as árvores que por vezes se aprumam centenas de anos, a suportar os golpes do Inverno e acalentadas pelas carícias da Primavera, estão conquistando a memória;

 a fêmea do tigre lambendo os filhinhos recém-natos aprende rudimentos do amor; o símio, guinchando, organiza a faculdade da palavra”. 

Na senda da ascensão (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier):  

O animal caminha para a condição do homem, tanto quanto o homem evolui no encalço do anjo. 

No reino animal, a consciência, à feição da crisálida, movimenta-se em todos os tons do instinto, no rumo da inteligência.
No reino hominal, a consciência nascida avança em todos os aspectos da inteligência, objetivando a conquista da razão sublimada pelo discernimento.

E no reino angélico essa mesma consciência, em múltiplas expressões de sabedoria e de amor, segue, vitoriosa, para a perfeita santificação, comungando a Perfeita Felicidade do Pai Celestial.

No campo das formas efêmeras, cada ser, portanto, pode residir à parte, na elaboração dos próprios valores que o erguerão aos níveis mais altos da vida, entretanto, no mundo das essências, as irmanará com o Todo da Criação, crescendo para a Unidade Cósmica – porto divino a esperar-nos sem distinção – de modo a investir-nos, um dia, na posse da celeste herança que nos é reservada.


 Altamirando - O consolador

terça-feira, 11 de março de 2014


                                                   A culpa é do “R”  


A notícia entrou-me pelo computador: não queria acreditar no que estava a ler! 

Esfreguei os olhos e voltei a ler! 

Afinal era verdade! Não, não pode ser, é estupidez a mais!

 Mas, não, estava lá tudo escarrapachado:

 “Menino dispara arma que recebeu no dia de aniversário e mata a própria irmã!!!

A notícia vinha na página  http://www.ptjornal.com/2013050215802, e, no essencial, o que aconteceu foi o seguinte:

 “O caso ocorreu no Kentucky (EUA): 

um menino de 5 anos matou, acidentalmente, a própria irmã, de 2 anos. 

A menina foi vítima de um disparo, enquanto as crianças brincavam em casa. A arma, uma versão para crianças de uma espingarda, tinha sido um presente de aniversário. A polícia está a investigar esta morte”.

Todos nós verberamos a violência, todos somos pacifistas, todos somos contra as guerras, mas, no nosso dia-a-dia somos os autores dessa mesma violência que ora vive latente no nosso imo à espera de um despoletador para sair, seja como uma agressão mental, verbal ou física, ora se desdobra em atitudes lamentáveis quando somos confrontados com a frustração ou com a oposição dos nossos ideais.

Desconhecendo que somos seres imortais, temporariamente num corpo carnal, em busca da perfeição intelectual e espiritual ao longo das múltiplas reencarnações, o homem jaz aprisionado aos seus conceitos imediatistas e materialistas, impregnado num egoísmo feroz, na vaidade, no orgulho, que são em essência a causa de todos os males na Terra.

Com a Doutrina Espírita (ou Espiritismo) comprovou-se a imortalidade do Espírito, a comunicabilidade dos Espíritos, a reencarnação, o que, aliado à existência de Deus e à pluralidade dos mundos habitados, nos dá um roteiro seguro para que possamos entender a Vida nos seus pormenores mais escondidos, explicando-nos quem somos, de onde viemos, para onde vamos e o por que das dessemelhanças de oportunidades nesta existência carnal. 

A dor far-nos-á abrir os olhos, se não optarmos pelo caminho 

do Amor: é um imperativo da evolução  

Aprendemos com o Espiritismo que existe uma Lei de Causa e Efeito, onde, como já ensinara Jesus de Nazaré, a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.

Nesse sentido, ficamos a meditar como os EUA repararão as milhões de mortes que provocam pelo mundo afora, em guerras interesseiras…

Ficamos a meditar na tristeza de um país onde ainda existe a pena de morte, desconhecendo que o Espírito, expulso violentamente pela sociedade através da pena de morte, continua a interagir com essa mesma sociedade, agora no mundo espiritual, voltando certamente a reencarnar no mesmo meio (agora ainda mais violento), até que essa sociedade o eduque.

Somos borboletas que pretendem evoluir, batendo compassadamente as asas da intelectualidade e da espiritualidade. 

Neste momento que vivemos, apenas batemos a asa da intelectualidade, e, esquecidos da espiritualidade, perdemos o Norte de Deus, e, em vez de voar de forma reta, andamos às voltas, como uns tontos, em busca de um rumo.

A dor far-nos-á abrir os olhos se não optarmos pelo caminho do Amor.

É um imperativo da evolução!

Há tempos, ouvindo uma conferência do ilustre espírita Divaldo Pereira Franco, este mencionava, em tom de brincadeira, que Jesus de Nazaré ensinou-nos o “Amai-vos uns aos outros”, mas, nós, seres primitivos, espiritualmente falando, alteramos a frase para “Armai-vos uns aos outros”.

Se a situação não fosse trágica, até seria engraçada e poderíamos dizer que, afinal…, a culpa é do “R”!



JOSÉ LUCAS – o CONSOLADOR

domingo, 9 de março de 2014


Onde existirem dúvidas,
não se pode opinar

Temos recebido várias perguntas a respeito da união estável entre homossexuais. Preliminarmente, queremos deixar bem claro que não estamos em condições de julgar ninguém.

 Cada pessoa é livre para externar seu pensamento e fazer da sua vida o que bem lhe aprouver.

No campo da afetividade sexual, essa premissa jornadeia pelos mesmos vales da liberdade humana. 

Todavia, jamais fomos omissos. Se deixarmos de responder às indagações, estaremos inaugurando essa atitude nefanda depois de 70 anos de idade, vividos 49 como cristão espírita. Por esse motivo, responderemos como tal, partindo da fecundação de uma criança.

Desde esse momento, a futura criança recebe, por doação do Criador, dois dons:

1. O dom da vida que lhe dá o direito de nascer, crescer, reproduzir, adquirir bens materiais, progredir moral e evoluir-se intelectualmente, e até o direito de “morrer” por morte natural. 

Por essa razão, a ninguém está assegurado, pelas Leis do Código Divino, o poder para tirar a vida (matar) alguém.

O Parlamento brasileiro criou uma Lei, haurida de mentes tendenciosas e mãos pecaminosas, que foi sancionada por quem de direito, transferindo à classe médica a responsabilidade para decidir quem e quando o médico pode ou deve matar, desde que apresente diagnóstico de anomalias que inviabilizem a vida material do nascituro, que sua fecundação foi via estupro ou para poupar a vida da mãe.

Não é tardio lembrar-se que a vida é um dom doado por Deus, salvo melhor juízo, somente Ele tem o poder para limitar o tempo em que o Espírito (ser pensante do universo) deva permanecer no corpo físico. Essa violação deixa claro que a Lei humana sobrepujou a Lei Divina.

2. O dom da liberdade que assegura ao ser humano o direito, quando atingir a maioridade, de ir, vir e permanecer onde bem entender; de externar o que pensa; de professar uma religião, de constituir família, e outras condicionantes referentes à espécie humana, desde que se cumpram, com dignidade, os deveres impostos pelas Leis sociais vigentes na sociedade.

Consta na Constituição Federativa do Brasil de 1988 que a união estável para constituir família é entre homem e mulher, visando naturalmente à procriação, convivência e educação dos filhos pelo pai e pela mãe, para perpetuidade da espécie humana, e promover disciplina, ética e moral na sociedade, uma vez que a “família é a célula mãe da sociedade”, que, em última instância, é a família ampliada.

Semanas atrás, o Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição Federal, legitimou a união estável entre seres humanos do mesmo sexo. 

Para que eu possa opinar, tenho que saber se a união estável entre homem e mulher, constante na Carta Magna Brasileira, tem o mesmo sentido legal da união estável legitimada pela Suprema Corte. Se tiver, está evidente que a Constituição foi ignorada, deturpada e “rasgada” pelos ministros que legitimaram, por unanimidade, essa união.

Somente depois que se dirimir essa dúvida, poderei opinar a respeito.

PEDRO DE ALMEIDA LOBO


quinta-feira, 6 de março de 2014

                           ESTUDAR NUNCA É DEMAIS

Em reunião de planejamento das atividades do Centro Espírita, debatia-se o que fazer em data comemorativa, quando surgiu a ideia de realização de um evento com interação entre os participantes, levantamento de dúvidas sobre determinado tema, e um painel com expositores convidados para fazer os esclarecimentos necessários, ou seja, seria um seminário dinâmico e enriquecedor. 


Foi então que o dirigente contrapôs: “Já estudamos tanto aqui em nossa casa, que, se é para fazer um evento doutrinário, é melhor simplesmente dar continuidade à programação de estudos”, e assim propôs a realização de um evento mais festivo, o que foi, afinal, aceito.

 Mas, perguntamos, será que estudamos tanto assim no Centro Espírita? 

E o estudo da doutrina espírita não é o mais importante?

Há vários anos estamos à frente de grupos de estudo da doutrina espírita, o chamado estudo sistematizado, e, embora sempre incentivando, motivando, dinamizando a prática de ensino, verificamos que apenas uma pequena parcela dos espíritas realmente estuda, pois invariavelmente apenas 10% a 15% confessam ter lido sobre o tema, ou o capítulo específico do livro, durante a semana que antecede o estudo. 

É por esse motivo que continuamos a encontrar no centro espírita conceitos errôneos e práticas divergentes do Espiritismo.

Quando se fala em leitura espírita é fácil constatar que a maioria prefere os romances, principalmente os mediúnicos, de origem espiritual. 

Nada contra os romances, mas existe muita água com açúcar, além de obras com flagrantes erros doutrinários, e que as pessoas simplesmente não detectam. 

Isso acontece porque não gostam de estudar, não querem estudar, abdicando do uso da razão, do raciocínio, do pensar, que somente o estudo sério, metódico e profundo pode propiciar. 

Perder oportunidade de aprofundamento com a realização de debate, seminário, pinga-fogo e outras atividades semelhantes, com a desculpa de que já estudamos muito no centro espírita, é tapar o sol com a peneira, é manter a cegueira generalizada.

Não somos contra eventos festivos e confraternativos, mas estes não podem se sobrepor ao estudo doutrinário. E temos que tomar cuidado na inserção de músicas e atividades que podem servir muito bem em outros ambientes, mas que não são necessariamente adequados ao ambiente do centro espírita, ao ponto de se desconsiderar a imensa gama de conteúdo da literatura espírita, das informações espirituais que nos chamam a atenção sobre o que fazemos da vida e da própria casa espírita.

Estudar o Espiritismo nunca é demais, entendendo que o estudo doutrinário não é sinônimo de rostos fechados aparentando seriedade, nem falta de conversação por imposição de silêncio. 

A atmosfera do centro espírita deve refletir alegria saudável, companheirismo espontâneo, afetividade sincera, inclusive nos grupos de estudo, o que deve acontecer o tempo todo.

É natural que o centro espírita tenha as suas datas comemorativas, mas centro espírita não é clube festivo, onde atividades lúdicas, música e outras coisas do gênero sejam prioridade. Podem, e devem, ser complementos com utilização adequada, mas não o principal.

Descuidar do estudo doutrinário e da educação espírita, ou não aproveitar todas as ocasiões para trabalhar seu aprofundamento, é comprometer o objetivo maior do Espiritismo, ou seja, a transformação moral da humanidade, como tão bem elucidado por Allan Kardec a partir das informações prestadas pelos Espíritos Superiores. 

É assim que um todo deve ser formado pelas reuniões públicas de palestra, pelos grupos de estudo, pelos eventos outros doutrinários (seminários etc.) e pela educação espírita da criança e do jovem, prioridades do centro espírita.

Equivoca-se quem pensa que basta ao centro espírita uma reunião pública semanal, um estudo do evangelho e o restante das atividades dedicadas a: mediunidade, tratamento espiritual e serviço assistencial. 

Também incide em engano quem mantém rifas, festas juninas, shows e outros eventos da espécie dentro das dependências do centro espírita, a pretexto de angariar recursos financeiros para manter as atividades. 

Temos um centro espírita, célula de regeneração espiritual do homem e da humanidade, ou um clube espírita para passatempo de despreocupados com a doutrina e com a vida?

Sempre que nos apresentar ocasião, seremos doutrinários, como nos apontam, com o entendimento e o compromisso sério de aprofundar o conhecimento sobre o Espiritismo e sua aplicação às diversas ciências, no objetivo maior de fazer com que o ser humano transcenda a si mesmo para conquista, o mais rápido possível, de sua perfeição moral, intelectual e espiritual.

Marcus De Mario é:
Educador, Escritor e Consultor Educacional e Empresarial. Colabora no Centro Espírita Humildade e Amor, da cidade do Rio de Janeiro. É programador e apresentador na Rádio Rio de Janeiro, a emissora da fraternidade.

 



 



terça-feira, 4 de março de 2014

                       Causa dano psicológico à criança 
                         um casal homossexual adotá-la?

Há alguns meses na cidade de São Paulo participei de seminário sobre homossexualidade com renomado psicólogo.

Uma das perguntas endereçadas a ele foi a seguinte: – Qual o dano psicológico para uma criança se for adotada por um casal homossexual?

Sua resposta foi:

 – Nenhum dano psicológico, porquanto o fundamental não é a opção sexual dos pais, mas, sim, as referências de pai e mãe que a criança deve ter em sua educação. 

E continuou o aluno a perguntar: 

– Mas esta criança não poderá ser homossexual como seus pais? 
– Bem, disse ele, lembre-se, meu caro amigo, que todo homossexual é filho de um casal heterossexual.

Por qual razão abordo este assunto aqui? É que dias atrás ministrei palestra sobre o tema família em um centro espírita e, claro, o assunto abordado neste texto foi motivo de muitas indagações.

Pode ser considerada família esta composição: Papai, papai e filhinhos? 

Ou: Mamãe, mamãe e filhinhos?

Pesquisa realizada pela USP (Universidade de São Paulo), uma das mais renomadas universidades de nosso país, e coordenada por Ricardo Vieira de Souza, corrobora com os dizeres do conferencista acima, de que não há danos psicológicos para a criança adotada por casais homossexuais, porquanto, como já dissemos, o relevante é a referência de pai e mãe, ou seja, os papéis  desempenhados pelo casal.

Portanto, pode ser considerada uma família a que é formada por casal homossexual que adota crianças, sem qualquer problema.

Você poderá me indagar:

 – Mas, então, você é a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, da adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo?

Não sou a favor e nem contra.

Também não estou em cima do muro. Sou a favor da felicidade, do amor e de crianças bem cuidadas, que recebam carinho e afeto, enfim, uma boa educação.

Sabe o que causa dano psicológico a uma criança? Violência, seja física ou psicológica.

 O que causa danos são os pais espancando-se, agredindo-se com palavras de baixo calão ou fazendo chantagens emocionais... 

Amar alguém não causa dano algum, jamais causará dano quando se quer bem a um ser humano.

Jesus, em sua infinita sabedoria afirmou que o importante desta vida é amar, fazendo ao próximo tudo aquilo que queremos nos seja feito.

Ora, como cristãos e espíritas, cabe-nos exercitar o amor, não julgando situações que nos escapam ao alcance. 

Desconhecemos o histórico espiritual das pessoas envolvidas, dos homossexuais e também dos heterossexuais, logo, é complicadíssimo qualquer julgamento sobre alguém que está simplesmente utilizando o seu direito de amar.

Já nos disse Kardec que a natureza deu ao homem a necessidade de amar e ser amado.

Maravilha de mensagem!

ortanto, papai, papai e filhinho e mamãe, mamãe e filhinho só causarão dano à criança se não tiverem amor um pelo outro...


Nunca se perde por amor... Nunca se perde... Seja de mesmo sexo ou sexo oposto, quando se tem amor tudo se resolve. 

Revista o CONSOLADOR  - Wellington Balbo