sábado, 5 de maio de 2012


O ESPIRITISMO É UMA SÍNTESE DOS ESFORÇOS HUMANOS PARA COMPREENSÃO DA VIDA.
(Parte 2 e final) *
“A fé ingênua, imposta pela autoridade e a tradição, derrete-se  como  cera  frágil, ao  fogo  da   razão.”  - Herculano Pires 


Segundo Herculano Pires (1),

“(...) Os mitos do “horizonte agrícola” (2) exercem ainda poderosa influência em nosso mundo.  Isso contribui para o descrédito das religiões, em face dos estudiosos de história, e mais ainda, dos que tratam de mitologia.
Rogério Coelho
Osíris, por exemplo, como típico deus agrário, parece constituir uma prova das origens míticas do dogma da ressurreição. Quando os cristãos proclamam a ressurreição de Cristo, os estudiosos sorriem com desdém, lembrando a ressurreição de Osíris.

Vejamos por quê: Osíris, filho da Terra e do Céu, cresce, viceja, esplende, e então é ceifado, retalhado ou moído, e por fim enterrado. Mas da terra, como as sementes, Osíris renasce, para começar novo ciclo, semelhante ao anterior. Morto e espostejado por Set, seu irmão, é ressuscitado por sua esposa e irmã, a deusa Ísis, através de rituais especiais.   Está bem visível a analogia agrária. Osíris é como o trigo, que depois da ceifa sofre a debulha, volta a ser enterrado na semeadura, e por fim renasce. Às vezes, associado ao Nilo, é um deus fluvial. Cresce com a inundação, declina e morre na vazante, mas depois ressuscita e faz nascerem as plantas, com o poder mágico das águas.
Osíris, deus-fluvial, está naturalmente ligado ao cultivo da terra. No seu aspecto fluvial, porém, apresenta-nos um elemento novo, que é a magia da água. Vemos nele a “água pura”, que serve para purificar a terra seca, estéril, poeirenta, e com ela os homens e os animais; a “água da renovação”, usada largamente nas abluções sagradas e utilizadas nas formas batismais, como no caso clássico de João Batista; e, por fim, a “água fecundante”, que representa a virilidade do deus-fluvial, fecundando a terra. 
O dogmatismo religioso não consegue furtar-se ao impacto dessas comparações. Somente a “fé raciocinada”, como queria Kardec, pode enfrentar serenamente essa análise histórica, sem perder-se na negação ou extraviar-se na dúvida. De outro lado, a razão céptica, por mais cultivada que seja, não consegue penetrar a essência do mito agrário. Assim como a fé necessita da luz da razão, esta luz, por sua vez, necessita do pavio da fé.
O Espiritismo demonstra que o mito agrário é essencialmente analógico, nasce do poder comparativo da razão.  Esse poder assimilou, desde a era tribal, a ressurreição humana, demonstrada pelos fatos mediúnicos, à ressurreição vegetal. Sem a prova material da existência do Espírito, da sobrevivência do homem, o mito agrário se reduz ao seu aspecto analógico, não deixando perceber os motivos profundos da analogia. Daí a descrença e o sorriso irônico dos “sábios”, que na Verdade deviam esperar para sorrir mais tarde, uma vez que os que riem por último riem melhor. 

Da impregnação mítica do pensamento religioso 

Agrário, também, é o mito da Virgem-Mãe, que adquire amplitude social e política na doutrina da teogamia egípcia. A terra, deusa-mãe, é virgem antes e depois do parto, pois não sai maculada da fecundação e está sempre em estado de pureza. Fecundada pelo deus celeste, floresce nas messes, embalando no seu colo materno o Messias, ou seja, o deus-solar, que traz a luz, a Vida e a fartura das colheitas após o inverno. O mito agrário da Virgem-Mãe tem ainda o seu aspecto astronômico, à semelhança de todos os deuses-agrários, uma vez que a Terra e o Céu se conjugam no mistério da fecundação. A constelação da Virgem é a primeira a aparecer no Céu, após o solstício do inverno. Dela nasce o Sol, o Messias. E a constelação continua virgem, após o nascimento. A palavra “messe”, como se vê, tem um grande poder mítico: dela derivam o nome do Messias e do culto que lhe atribuem, mais tarde representado na liturgia da missa. 
Assim também o mistério do pão e do vinho. O pão representava nos mistérios gregos a deusa Demeter, ou a Ceres para os romanos, mãe dos cereais. O vinho representava Baco ou Dionísio, deuses da alegria, da vida, e, portanto do Espírito. Comer o pão e beber o vinho era simbolizar a fecundação da matéria pelo poder do Espírito. A matéria impregnada pelo poder do Espírito era representada, nas cerimônias religiosas pagãs, pelo pão embebido de vinho.  Quando os hebreus chegaram a Canaã encontraram essa prática entre os cananitas.
Todo o horizonte agrícola se mostra dominado por essa simbologia mágica do pão e do vinho, de que o próprio Cristo se serviu, não para sujeitar os homens ao símbolo, mas para ilustrá-lo através dele.
Bastam esses exemplos, para vermos a intensidade da impregnação mítica do pensamento religioso contemporâneo. O Espiritismo luta contra essa impregnação, libertando o homem do peso esmagador do horizonte agrícola, para conduzi-lo ao horizonte espiritual, que Jesus anunciou à mulher samaritana.
Se os homens do horizonte agrícola não podiam conceber o Deus-Único senão por uma forma sincrética, uma mistura de Deus e de Homem, os do horizonte espiritual irão concebê-lo de maneira mais pura. Não se trata, porém, de dois Deuses, e sim de um mesmo Deus, visto de duas maneiras.  Por trás de todas as formas de Deus, encontra-se uma realidade única, que é o próprio Deus. Isso o que permitia a Jesus dizer-se filho de Jeová e ao mesmo tempo apontar o Seu Pai universal, em espírito e verdade.
Da mesma maneira, os princípios fundamentais da Bíblia não são negados, mas confirmados pelos Evangelhos. A Lei não é destruída, mas confirmada. Mais de uma vez nos servirá de esclarecimento a afirmação de Paulo: “A lei era o pedagogo para nos conduzir a Cristo”.
  
O processo histórico não é contraditório, mas progressivo

A Torá judaica não valia pelas suas normas exteriores e transitórias, circunstanciais, mas pela sua substância. Essa substância é que prevalece, sendo confirmada por Jesus, nos dois mandamentos principais: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. O processo histórico não é contraditório, mas progressivo. 
Quando não sabemos enxergar as linhas da evolução, em seu desenvolvimento natural, enxergamos apenas as aparentes contradições das coisas. Assim como a ideia de Deus evolui com os homens, desde a litolatria até as formas mitológicas, e destas à concepção espiritual que hoje aceitamos, assim também os princípios e os postulados bíblicos vão atingir sua verdadeira expressão nos Evangelhos, e por fim sua espiritualização no Espiritismo.
Há um encadeamento perfeito no processo histórico, que não podemos perder de vista.   Graças a esse encadeamento os Espíritos puderam dizer a Kardec que o Espiritismo é o restabelecimento do Cristianismo, o que vale dizer: a última fase do desenvolvimento histórico do Cristianismo.  Quando sabemos que este originou do Judaísmo, representando um desenvolvimento natural da religião judaica, então compreendemos que o Espiritismo, como queria Kardec e como sustentava Léon Denis, é o ponto mais alto que podemos atingir, até hoje, em nossa evolução religiosa. Jeová, o deus-agrário, transforma-se no Pai evangélico, para chegar à “Inteligência Suprema”, no Espiritismo. Jeová se depura, e com ele se depuram os ritos do seu culto, que por fim se transformam na “adoração em espírito e verdade”, de que falava Jesus.
O “horizonte agrícola” permanece subjacente em nossa mentalidade moderna. Ainda não conseguimos libertar-nos de suas fórmulas agrárias, de seus deuses e seus cultos, carregados de sacrifícios animais e vegetais. O “horizonte civilizado” desenvolve-se sob os signos agrícolas. Mas virá, por fim, o momento de transição para o “horizonte espiritual”, que assinalará uma fase de transcendência na vida humana.
Nos Estados Teológicos, a estrutura política assemelha-se à estrutura metafísica ou divina.   A Religião e o Estado se modelam reciprocamente, uma sobre o outro, e vice-versa. A classe sacerdotal, racionalmente organizada, elabora os mitos no plano intelectual, criando a teologia, estruturando o ritualismo, estabelecendo a genealogia dos deuses e as formas de relações entre estes e os homens. 
Na teogamia egípcia a genealogia divina se prolonga na genealogia humana dos faraós, graças à fecundação da rainha por um deus. Amalgamados assim os dois poderes, o temporal e o divino, na própria carne dos monarcas, os Estados Teológicos tornam-se monolíticos. Ainda na Grécia vemos isso:  a figura humana de Zeus, na sua corte olímpica, refletindo no espaço a estrutura política da nação”. 
Evolução lenta e penosa
“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”.
-
Jesus. (Jo.,8:32.)

Continuemos com Herculano Pires na obra citada:

“(...) Com o tempo o homem vai se libertando de si mesmo, da sua condição humana, construída penosamente através das estruturas sociais do horizonte tribal e do horizonte agrícola, procurando uma forma mais precisa de definição de sua natureza. Na organização tribal, ele se libertou da condição animal e do jugo absoluto das forças da Natureza, para elaborar a sua condição própria. Na organização agrícola, ele aprendeu a dominar a Natureza e submetê-la ao seu serviço, mas caiu prisioneiro da estrutura social. No horizonte civilizado ele começa a romper os liames da organização social, para descobrir-se a si mesmo, o que só fará quando se tornar um indivíduo.
A evolução do Espírito está bem clara nesse imenso processo de desenvolvimento histórico da Humanidade. O homem se eleva progressivamente da selva à civilização, através de períodos históricos definidos como “horizontes”, ou seja, como universos próprios, nos quais os diferentes poderes da espécie vão sendo treinados em conjunto, até que o desenvolvimento da razão favoreça o processo de individualização. Primeiramente, o homem se destaca da Natureza através do conjunto tribal; depois, reafirma a sua independência através dos conjuntos mais amplos das civilizações agrárias; e, depois, ainda, constrói os conjuntos mais complexos das grandes civilizações orientais. Nesses conjuntos, porém, o homem descobre a possibilidade de destacar-se individualmente da estrutura social. O espírito humano se afirma como individualidade, como entidade autônoma, capaz de superar não somente a natureza, mas a própria Humanidade”.

Segundo Joanna de Ângelis: 
  
“(...) O ser humano, avança para a Realidade, na qual, queira ou não, se encontra mergulhado, por ser centelha viva e inextinguível...
Lentamente a evolução vai se impondo de maneira inevitável porque o progresso é inestancável. Passa a onda que avassala por um momento, sucedendo à outra, que também desaparecerá, e a busca do “Si” propiciará diferente conduta, abrindo espaço para a autenticidade, para a interiorização, para o autodescobrimento... 

É necessário guardarmo-nos da obtusidade dos
misoneístas revéis
 
Por muito tempo a prevalência do mito no inconsciente humana regerá o seu comportamento. Inobstante essa presença, desenhar-se-ão programas de ascensão, mediante os sonhos de beleza, de paz e liberdade plena, que darão surgimento a futuros arquétipos que se insculpirão no inconsciente, procedendo das experiências no mundo espiritual, onde a vida estua, e ressumando na Terra, onde se desenvolverão os programas da evolução”.
A Doutrina Espírita nos coloca frente a frente com o “horizonte espiritual” que Jesus mencionou à mulher samaritana; horizonte este totalmente diferenciado de todos os outros pelos quais temos passado nesta longa peregrinação evolutiva desde os tempos das cavernas e das tribos primitivas...
Para não obstruirmos o nosso processo evolutivo, deixando-o fluir naturalmente, sem peias, faz-se necessário guardarmo-nos do apoucamento e obtusidade dos misoneístas revéis que, anestesiados em ancilosante acomodação não se deixam permear pelo conhecimento espírita, mimetizados que estão pelo verniz dos mitos e fantasias de antanho dos quais não abrem mão, presos que estão aos “horizontes” antigos.
Conhecendo as raízes histórico-atávicas dos arraigados costumes que se perdem na noite dos tempos, fica mais fácil identificar – hodiernamente – os seus corolários e, consequentemente podemos trabalhar com mais eficiência no sentido de erradicá-los dos arraiais espiritistas, livrando tanto o Movimento Espírita quanto as Casas Espíritas de todos os “usos e costumes” ainda comprometidos e atrelados ao passado de ignorância de onde procedemos.  
Tal a maneira de projetarmo-nos na direção do “horizonte civilizado”, ou seja, do “horizonte espiritual”  atentos às palavras de Jesus à Samaritana (3):
“(...) Vós adorais o que não sabeis; mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem”.

Notas: 
(1) Pi
res, José Herculano. O Espírito e o Tempo. 3.ed.São Paulo: EDIECEL, 1979.
(2) Segundo patamar da evolução humana. (Para maiores esclarecimentos leia a 1ª parte deste artigo, na edição anterior desta revista.)
(3) João, 4:22 e 23. 

terça-feira, 1 de maio de 2012


O ESPIRITISMO É UMA SÍNTESE DOS ESFORÇOS HUMANOS PARA COMPREENSÃO DO MUNDO E DA VIDA

(1ª Parte)
"A fé ingênua, imposta pela autoridade e a tradição, derrete-se  como  cera  frágil, ao  fogo  da   razão.” - Herculano Pires
 

Emmanuel recomendou ao seu tutelado - Francisco Cândido Xavier - que dele se afastasse no momento em que dissesse algo diferente do que disse Jesus e Kardec. Infelizmente tal recomendação não tem sido observada por inúmeras criaturas que promovem em suas Casas Espíritas os mais absurdos despautérios doutrinários. Evidentemente  tal recomendação  é estendida a todos os
Rogério Coelho
espíritas para que jamais venhamos a acoroçoar modismos ditados pelos ancestrais atavismos, permeando o movimento e as Instituições Espíritas com práticas esdrúxulas, divorciadas da coerência doutrinária.  

Lamentavelmente já grassam loucuras de variegado matiz, graças à falta de estudos e ausência de sedimentação doutrinária de quem “aprendeu” Espiritismo de “ouvido”, sem o devido estudo das Obras Básicas...

Vamos buscar nas raízes das civilizações a explicação para tal estado de coisas, a fim de que possamos compreender como, apesar de toda a clareza da Doutrina Espírita, ainda existem tantos modelos ideológicos ultrapassados e comprometidos com a ignorância, corrompendo o meio espiritista, consequência lógica do comodismo e do misoneísmo dos invigilantes. 

Por falar em “raízes das civilizações”, devemos entender que os diversos patamares evolutivos espalhados pelas idades desde o início dos tempos até hoje são conhecidos como “horizontes”. No momento em que de nômade o homem passou às suas primeiras experiências sedentárias, temos aí o início do “horizonte agrícola” que localiza no tempo as idades mais primitivas pelas quais já passamos, mas, por incrível que pareça, ainda restam, mesmo nos dias de hoje, resquícios desse recuado “horizonte” como vamos ver na sequência de nossas despretensiosas elucubrações. Tais substratos é que geram os desacertos doutrinários com que nos vemos a braços hoje em dia, uma vez que os ancestrais atavismos são de difícil erradicação.

Escreveu Segundo Herculano Pires:
“(...) Mais de um século após o advento do Espiritismo reina ainda grande incompreensão a respeito da Doutrina, de sua própria natureza e de sua finalidade. A Codificação, entretanto, foi elaborada em linguagem clara, precisa, acessível a todos. À lucidez natural do espírito francês, Kardec juntava sua vocação e a sua experiência pedagógicas, além da compreensão de tratar com matéria sumamente complexa. Vemo-lo afirmar, a cada passo, que desejava escrever de maneira a não deixar margem para interpretações, ou seja, para divergências interpretativas...
Qual o motivo, então, por que os próprios adeptos do Espiritismo, ainda hoje, divergem, no tocante a questões doutrinárias de importância? 
O Espiritismo, segundo Kardec e seus principais continuadores, constitui a última fase do
processo do conhecimento
 
À maneira do Cristianismo, o Espiritismo abre caminho no mundo, enfrentando a incompreensão de adeptos e não-adeptos.
Em primeiro lugar, há o problema da posição da doutrina: Uns a encaram como sistematização de velhas superstições; outros, como tentativa frustrada de elaboração científica; outros, como ciência infusa, não organizada; outros ainda, como esboço impreciso de filosofia religiosa; outros, como mais uma seita, entre as muitas seitas religiosas do mundo. Para a maioria dos adeptos e não-adeptos, o Espiritismo se apresenta como simples “crença”, espécie de religião e superstição, ao mesmo tempo, eivada de resíduos mágicos...
Ao contrário de tudo isso, porém, o Espiritismo, segundo a definição de Kardec e dos seus principais continuadores, constitui a última fase do processo do conhecimento.  Última não no sentido de fase final, mas da que o homem pôde atingir até agora, na sua lenta evolução através do tempo. É evidente que se trata do conhecimento em sentido geral, não limitado a um determinado aspecto, não especializado...  Nesse sentido geral, o Espiritismo aparece como uma síntese dos esforços humanos para compreensão do mundo e da vida.   Justifica-se, assim, que haja dificuldade para a sua compreensão, apesar da clareza da estrutura doutrinária da Codificação. De um lado, o povo não pode abarcá-lo na sua totalidade, contentando-se com o seu aspecto religioso; de outro, os especialistas não admitem a sua natureza sintética; e de outro, ainda os preconceitos culturais levantam numerosas objeções aos seus princípios.
(...) Sendo o Espiritismo uma realidade histórica, afirmada pelo Codificador e seus sucessores, tem ele o seu passado e o seu presente, como terá o seu futuro. No tempo de Kardec, introduzir alguém no estudo do Espiritismo era introduzi-lo numa realidade nascente, numa verdadeira problemática em ebulição, num processo histórico em princípio de definição, e principalmente “numa nova ordem de ideias”.  Hoje, é introduzir esse alguém num processo já definido, e não apenas numa ordem de ideias, mas também no quadro histórico em que essa ordem surgiu. Dessa maneira, é introduzi-lo também na própria introdução de Kardec.  
Sem o exame histórico do problema mediúnico, por exemplo, os estudantes de hoje estarão ameaçados de flutuar no abstrato. Introduzindo-se numa ordem de ideias, sem o conhecimento de suas raízes históricas, arriscam-se a confundir, como fazem os leigos, mediunismo e Espiritismo, ou seja, o processo mediúnico de desenvolvimento espiritual do homem, com o Espiritismo. Arriscam-se, ainda mais, a aturdir-se com fatos mediúnicos rudimentares, considerando-os, por sua aparência extravagante, como novidade. Por outro lado, dificilmente compreenderão a aparente contradição existente no fato de ser o Espiritismo, ao mesmo tempo, uma doutrina moderna e um processo histórico provindo das eras mais remotas da Humanidade.  
Existe ainda o problema religioso, e particularmente o das ligações do Espiritismo com o Cristianismo, que somente uma introdução histórica pode esclarecer”.
Isto é o que tentaremos fazer neste pequeno ensaio. 
*
“Vos adorais o que não sabeis; mas a hora vem, e agora é, em que os  verdadeiros  adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade;  porque  o  Pai  procura a tais  que assim O adorem.”  - Jesus.  (Jo., 4:22 a 24.)
Esta parte do diálogo entre Jesus e a mulher samaritana à beira do poço de Jacó, transcendendo o seu mero aspecto circunstancial-temporal, marca o exato momento em que Ele falava não apenas a ela, mas a toda a Humanidade acerca da urgente necessidade de romper com os mitos e fantasias de antanho, elevando-se aos alcandorados patamares onde viceja a luz da razão, ou seja: mostrava onde está a realidade espiritual, por sinal bem distante desta na qual ainda nos situamos. 
Os mitos perderam a força de expressão, não, porém, de conteúdo, por estarem ínsitos na história evolutiva
da própria criatura
 
Segundo Joanna de Ângelis trazemos uma herança arquetípica de mitos e fantasias, dos períodos iniciais da evolução do pensamento, que prossegue submetendo-nos e subjugando-nos e, consequentemente, impedindo-nos de vislumbrar os horizontes espirituais e conquista, evidentemente obstando também a nossa almejada alforria espiritual, meta, aliás, assinada por Deus para todas as Suas criaturas. 

Acompanhemos as palavras da nobre Mentora :“(...) Os vultos mitológicos do Panteão greco-romano, ou os deuses Todo-Poderosos da herança oriental, têm ressurgido com força bastante singular nos mais diferentes períodos das transatas civilizações, tomando forma dominadora na atualidade.
O renascer de culturas bárbaras adotadas como exibicionismo pela moderna juventude, não apenas ressuscita atavismos que remanescem de suas reencarnações anteriores, ainda vivas no inconsciente, senão, também, como expressões violentas do instinto de sobrevivência, agressivo por mecanismos de defesa e de auto-realização, chamando a atenção exteriormente, a fim de ocultar os conflitos internos de cada um, a timidez, o medo da sociedade, assim formando novos grupos de identificação, nos quais se homiziam, dando largas ao primarismo neles jacentes.
Por outro lado, o mito que permanece vivo no indivíduo gera novos deuses, aos quais se submete, criando linguagem própria de comunicação, através da qual se sente elegido, depredando, agredindo os outros grupos sociais e consumindo-se na alucinação das drogas em terríveis estados de consciência alterados, que se manifestam em desequilíbrio e morte.
O exacerbado culto ao corpo evoca o helenismo subjacente e os ideais dos gladiadores nas arenas, conquistando glórias enquanto matavam, promovendo o ego destruidor em detrimento do “Self” profundo e realizador.
As expressões positivas dos mitos ancestrais constituíram instrumentos  estimuladores para o crescimento de incontáveis gerações que se fascinavam com esses arquétipos inerentes ao ser humano, e procedentes das forças vivas da Natureza.
Face ao desenvolvimento ântropo-sócio-psicológico, a identificação do mito como recurso de evolução experimentou uma necessária releitura, concluindo-se que, na maioria das vezes, transformando-se em fantasia, afastava as mentes e as emoções da realidade, propiciando fugas espetaculares para longe da realidade, com imensos prejuízos para o amadurecimento interior.
Parecendo haver sucumbido, os mitos perderam a força de expressão, não, porém, de conteúdo, por estarem ínsitos na história evolutiva da própria criatura.
Recorde-se que, à medida que as velhas histórias da carochinha e outras foram sendo deixadas à margem nos programas educacionais, a industrialização dos povos e as lutas pela aquisição consumista das pessoas produziram terríveis vazios existenciais, roubando o significado profundo da Vida humana.
Ante a ausência de uma linguagem psicológica própria para preencher as lacunas de objetivo no transcurso da Vida física, foram criados novos deuses, conforme os padrões comportamentais do momento, mascarando muitos conflitos e dando curso à vigência de mitos que pudessem superar a desinteressante e cansativa jornada operacional, com o qual o ser se encontra a braços”. 
Os mitos e fantasias ancestrais ressurgiram nas músicas ruidosas, primitivas, exigindo os movimentos
tribais do corpo
 
O peso dos atavismos é tão considerável que até mesmo ao tempo de Moisés podemos flagrar a sua ação imediatista: Enquanto Moisés subia ao Monte Sinai para receber os transcendentais procedimentos novos que iriam alterar o “status quo” da massa ignara, o poviléu não perdeu tempo: fundiu com ouro um bezerro ao qual cultuavam no momento em que Moisés descia com as Tábuas da Lei.  Evidentemente a imagem do bezerro de ouro falava mais de perto às suas necessidades de proteção, isto é, materializaram um recurso mais palpável para resolver as fobias coletivas, num flagrante desvio doutrinário da linha que Moisés estava apresentando.
Vejamos o registro de tal ocorrência na narrativa do próprio Legislador Hebreu : “(...) e as duas tábuas do concerto estavam em minhas mãos; e olhei, e eis que havíeis pecado contra o Senhor vosso Deus; vós tínheis feito um bezerro de fundição; cedo vos desviastes do caminho que o Senhor vos ordenara. Então peguei das duas tábuas, e as arrojei de ambas as minhas mãos, e as quebrei aos vossos olhos”.
Continuemos com a conclusão de Joanna de Ângelis:
“(...) Regurgitantes, os mitos e fantasias ancestrais, ressurgiram nas músicas ruidosas, primitivas, exigindo os movimentos tribais do corpo, com os acepipes da exacerbada sensualidade, favorecendo os jogos exaustivos do sexo e da embriaguez dos sentidos, como fontes de prazer e abismos de esquecimento da responsabilidade de consciência perante as exigências da evolução intelecto-moral; os desportos ressuscitaram os seus gladiadores, nos mais violentos, ou trouxeram de volta os semideuses das competições de todo gênero, empenhados em vencer sempre, sem o menor respeito pelo prazer de competir; o profissionalismo impiedoso disseminou organizações, algumas criminosas, sem dúvida, nas quais o atleta é apenas objeto de interesse comercial, que deve ser eliminado quando já não atenda às paixões mafiosas e às dos fanáticos que os adoram, matam e morrem por eles, terminando por devorá-los também”.
Após esta necessária digressão onde já podemos perceber algo acerca do porquê de tanta incoerência doutrinária nos arraiais espiritistas, uma vez que os “desvios” estão arraigados em nosso caldo cultural, vamos acompanhar o lúcido raciocínio de Herculano Pires, para ficarmos mais bem situados na questão, viajando com ele num proveitoso “flashback”  histórico. Para tal, vamos extratar alguns tópicos de seu livro (1) apontado por uma pesquisa da Candeia Distribuidora de Livros de Catanduva (SP) como um dos dez livros espíritas do século 20, onde estão consignados os testemunhos de vários sábios, entre eles Ernesto Bozzano que, por sua vez, apoiou suas elucubrações científicas nas pesquisas do antropólogo Andrew Lang e do etnólogo Max Freedom Long, realizadas entre as tribos da Polinésia, para mostrar a existência dos fenômenos espíritas no horizonte tribal e, conseguintemente a crença na sobrevivência do espírito humano.
Observamos, assim, que desde as mais prístinas eras, o homem já identificava “uma força” além da matéria. Daí surgiram os mitos e seu cortejo de fantasias. Não obstante, é razoável constatar que das selvas à civilização, os Espíritos ensinam aos homens que a Vida não se encerra no túmulo, como não principia no berço.
Quando de nômade o homem passou às primeiras formas sedentárias de vida social, vemos o animismo desenvolver-se no plano da racionalização. Esse recuado período é também conhecido como “horizonte agrícola”, do qual ainda hoje existem fortes resquícios como veremos mais adiante. 
O conhecimento dos processos históricos é indispensável ao espírita, para imunizá-lo contra as deturpações místicas
da doutrina
 
Estamos naquele período hegeliano, e por isso mesmo dialético, em que a razão se desenrola no processo histórico, entendido este como o progresso do homem na Terra.   As invenções, o emprego de instrumentos, o aumento demográfico e o desenvolvimento mental processam-se de maneira simultânea, e é precisamente do desenvolvimento mental que vai surgir uma consequência curiosa: o aprofundamento da crença tribal nos Espíritos, num sentido de personalização, envolvendo os aspectos e os elementos da Natureza. A experiência concreta que deu ao homem primitivo o conhecimento da existência dos Espíritos alia-se agora ao uso mais amplo das categorias da razão. As duas formas gerais de racionalização anímica são a concepção da Terra-Mãe e a do Céu-Pai. Essas formas aparecem bem nítidas no pensamento chinês, que conservou até os nossos dias os elementos característicos do “horizonte agrícola”. O Céu é o deus-pai, que fecunda a terra, deusa-mãe”.  
Podemos observar, assim que o dogma da virgindade de Maria, mãe de Jesus e a “fecundação divina” que pretensa e ousadamente tenta explicar a divindade do Cristo. nada mais é senão um “xerox” ostensivo e grosseiro, diríamos um “plágio”, dos mitos pagãos feito pela casta sacerdotal. Mais adiante veremos que a utilização do pão e do vinho realizada até hoje em várias denominações religiosas tem a mesma origem, pois os religiosos da Idade Média não entendendo a essência do ensinamento de Jesus na última ceia, ao referir-Se ao pão e ao vinho, equivocadamente materializaram o preceito e perderam o rumo do seu real sentido. A mesma fonte forneceu também a origem do sacramento do batismo pela água, conforme também veremos. Mas, como podemos notar desde já, nem mesmo originalidade os inventores das religiões tiveram, vez que simplesmente repetiram edições reformadas e mal alinhavadas de modelos existentes no passado.
Continuemos com Herculano Pires:
“(...) Na civilização egípcia, há uma inversão de posições: O Céu é a mãe e a Terra é o Pai; e dentro da ancestral teogamia egípcia, os Faraós eram também portadores de dupla natureza: a humana e a divina, porque eram filhos da rainha com o deus-solar. Não eram, portanto, filhos de um homem, e nem mesmo de um homem-deus, mas do próprio Deus, que através de processo divinos fecundava a rainha. 
O conhecimento desses processos históricos é indispensável ao espírita, para imunizá-lo contra as deturpações místicas ou supersticiosas da doutrina, tão comuns num mundo que, apesar de se orgulhar do seu progresso científico, ainda não se libertou de sua pesada herança mitológica.”
 (Este artigo será concluído na próxima edição desta página.)

Nota:
(1) PIRES, José Herculano. O Espírito e o Tempo. 3.ed.São Paulo:EDIECEL, 1979.


sábado, 28 de abril de 2012

EXPIAÇÃO COLETIVA!!



Diante das leis divinas todos os homens são iguais. A diversidade dos instintos e das aptidões intelectuais e morais inatas observadas resultam das vivências, das experiências e habilidades conquistadas ao longo do tempo através de inumeráveis reencarnações. Quando usamos mal o livre-arbítrio, suprimindo a liberdade dos nossos semelhantes, impondo com violência as nossas idéias, prejudicando sobremaneira o nosso próximo, nos situamos contrários às leis naturais, sendo catalogados pelas Leis Divinas como réus confessos, trazendo inscritas as sentenças em nossas consciências, vivenciando intenso sofrimento interior.
Nos domínios espirituais, o remorso nos assenhoreia, o sofrimento tem a aparência de tempo indeterminado, de algo que jamais terá fim; sem paz, ansiamos pela esperança, consubstanciada na misericórdia divina, permitindo a reparação das faltas. Urge, então, empenharmo-nos na tarefa do resgate de nossos débitos.
O apóstolo dos gentios, Paulo, disse que o homem, na “carne” (existência física), tendo semeado a corrupção, terá a chance de ceifá-la, erradicando-a de si (Gálatas 6:7-8). O amor incomensurável de Deus nos permite a experiência do retorno à estrada no mesmo ponto em que dela nos afastamos (“a sementeira é livre, a colheita é obrigatória”). O Salmo 28 de Davi igualmente contém esse ensinamento, assim manifestado: “Paga-lhes segundo as suas obras, segundo a malícia dos seus atos; dá-lhes conforme a obra de suas mãos, retribui-lhes o que merecem”. Tudo isso confirmado pelo Mestre: “... a cada um segundo as suas obras” (Apocalipse 22:12).
Cometendo a transgressão, somos conduzidos ao tribunal da nossa própria consciência, penetrando no mundo espiritual como algozes. Com a chance da retificação expiatória na carne, retornamos pelo portal da morte como vítimas, sem mais a presença desagradável da culpa a nos consumir. O suplício tornou-se temporário, conforme ensinamento de Jesus: “Em verdade te digo que não sairás da prisão enquanto não pagares o último centavo” (Mateus 5:26).
A ação do resgate pode acontecer, correlacionando-a com o tipo de infração. Se o mal foi praticado coletivamente, isto é, em conluio lastimável junto a um grupo de verdugos (“Ai daqueles por quem vem o escândalo” - Mateus 18:7), a liquidação dos débitos acontecerá com a presença de todos os protagonistas envolvidos, processo conhecido, na Doutrina Espírita, como expiação coletiva.  
Clelie Duplantier diz que faltas coletivas
devem ser expiadas coletivamente
pelos que, juntos, as praticaram
As desgraças sociais envolvendo muitas vítimas são relacionadas a fatores casuais pelos materialistas e espiritualistas menos avisados, o que caracteriza uma hipótese por demais simplória, não merecendo consideração, desde que a própria harmonia e ordem do universo, como igualmente a grandeza matemática e estrutural das galáxias, apontam para uma causa inteligente. Aliás, a frase lapidar de Teófilo Gautier é sempre lembrada: “O acaso é talvez o pseudônimo de Deus quando Ele não quer assinar o seu próprio nome”.
 O estudo profundo do Espiritismo nos leva ao entendimento dos fatores causais das calamidades, opondo-se aos que põem a causa de lado, por falta de explicações suficientes e convincentes. Em “Obras Póstumas”, no cap. intitulado “Questões e Problemas”, há uma abordagem especial de Kardec e dos Espíritos a respeito das expiações coletivas, comprovando a entidade Clelie Duplantier que faltas coletivas devem ser expiadas coletivamente pelos que, juntos, a praticaram. Disse que todas as faltas, quer do indivíduo, quer de famílias e nações, seja qual for o caráter, são expiadas em cumprimento da mesma lei. Assim como existe a expiação individual, o mesmo sucede quando se trata de crimes cometidos solidariamente por mais de uma pessoa. A propósito, o Codificador, em “A Gênese”, no capítulo 18, item 9, chama-nos a atenção de que a humanidade é um ser coletivo no qual acontecem as mesmas revoluções morais que em cada ser individual.
Duplantier afirma também que, graças ao Espiritismo, a justiça das provações é agora compreendida e não decorre dos atos da vida presente, porque corresponde ao resgate das dívidas do passado. Depois afirma que haveria de ser assim com relação às provas coletivas, que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se reencontram para sofrerem juntos a pena de Talião.
Somente os acontecimentos importantes e
capazes de influir na nossa evolução
moral são previstos por Deus
As tragédias, levando às desencarnações coletivas, não são frutos do acaso. Na questão 258, de “OLE”, A.K. pergunta se, antes de reencarnar, o Espírito tem consciência ou previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena. A resposta: "Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisto consiste o seu livre-arbítrio”. A desencarnação, o momento certo da morte, é realmente predeterminado, assim como está documentado em “OLE”, Q. 853, dizendo que o instante da morte é fatal, no verdadeiro sentido da palavra, e, chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podemos furtar. A questão 853(a) frisa que, quando é chegado o momento do nosso retorno para a Dimensão Espiritual, nada nos  livrará e também relata que já sabemos o gênero de morte pelo qual partiremos daqui, pois isso nos foi revelado quando fizemos a escolha desta ou daquela existência. Importante, igualmente, o comentário de A.K., na Q. 738, dizendo que ”venha por um flagelo a morte, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida”. Na Q. 859, os Espíritos dizem a A.K. que a fatalidade, verdadeiramente, só existe quanto ao momento em que devemos aparecer e desaparecer deste mundo. Na Q. 872, A.K. enfatiza: “no que concerne à morte é que o homem se acha submetido, em absoluto, à inexorável lei da fatalidade, por isso que não pode escapar à sentença que lhe marca o termo da existência, nem ao gênero de morte que haja de cortar a esta o fio”.
Devemos destacar que somente os acontecimentos importantes e capazes de influir na nossa evolução moral são previstos por Deus, porque são úteis à nossa purificação e à nossa instrução (”O LE”, Q. 859a). Entretanto, “o amor que cobre multidão de erros”, em sintonia com a Lei de Ação e Reação e com o livre-arbítrio, pode evitar acontecimentos que deveriam realizar-se, como igualmente permitir outros que não estavam previstos (”OLE”, Q. 860). 
Portanto, o acaso não tem participação nas determinações divinas. O Pai nos ama incondicionalmente e nos proporciona a oportunidade da redenção espiritual, dando-nos a chance bendita de resgatarmos as infrações do passado contrárias às Suas Leis, de várias formas, inclusive coletivamente. As expiações coletivas, segundo “O Livro dos Espíritos”, questão 737, oferecem o ensejo de progredirmos mais depressa no rumo evolutivo, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos séculos.
Os Espíritos, dizem os imortais, influem em
nossos pensamentos e em nossos atos
muito mais do que imaginamos
Como se processa a convocação dos encarnados para o evento da desencarnação coletiva? Qual a explicação espiritual para o fato de muitas pessoas saírem ilesas das catástrofes, algumas até mesmo perdendo o embarque do meio de transporte a ser acidentado? As respostas são baseadas nas premissas de que o acaso não pode reger fenômenos inteligentes e na certeza da infalibilidade da Lei Divina, agindo por conta de Espíritos prepostos, sob a subordinação das entidades superioras.
Na Q. 459 de “OLE”, A.K., perguntando se os Espíritos influem em nossos pensamentos e em nossos atos, obteve a seguinte resposta: “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”. Portanto, há influência marcante, embora oculta, dos Espíritos em nossos atos, sugerindo pensamentos, “dando a impressão de que alguém nos fala” (Q. 461). Recebemos uma sugestão mental, funcionando a nossa mente como um aparelho emissor-receptor, de acordo com a nossa sintonia. As questões 526, 527 e 528 de “OLE” são importantíssimas para esse entendimento, desde que os Espíritos, na execução dos desígnios divinos, atuem sobre a matéria para cumprimento das Leis da Providência, nunca as derrogando. 
Na produção de fatos voluntários, as entidades valem-se das circunstâncias naturais para gerar os acontecimentos. Se soar o momento de alguém desencarnar e “era destino dele perecer por conta de um acidente”, pode a espiritualidade lhe inspirar para subir em uma escada podre que não resista ao seu peso. A escada não foi quebrada pelos Espíritos.
Em outro exemplo, “um homem tem que morrer eletrocutado por um raio”. Os Espíritos lhe inspiraram a idéia de se abrigar debaixo de uma árvore sobre a qual cairia a descarga elétrica. As entidades não provocaram a produção do raio, mas sabiam qual a árvore a ser atingida.
Em outro ensinamento bem prático, “se alguém não tem que perecer” e uma pessoa mal-intencionada dispara sobre ele um projétil de fogo, os Espíritos não atuam desviando a trajetória da bala, já que o projétil tem que seguir o seu curso de acordo com as leis da matéria; entretanto, a espiritualidade lhe sugere a idéia de se desviar ou atrapalhar a quem está empunhando a arma. Importante esse ensinamento, já que muitas pessoas moram e circulam em locais bem perigosos, principalmente nas grandes cidades brasileiras, e somente perecerão por balas perdidas se estiverem subordinadas a essa programação.
É muito importante o ensinamento de que o mal não é programado, isto é, ninguém nasce para ser agente de cumprimento de prova ou expiação, como é descrito na Q. 470 de “OLE”: “a nenhum Espírito é dada a missão de praticar o mal. Aquele que o faz fá-lo por conta própria, sujeitando-se, portanto, às conseqüências”.
O naufrágio do Titanic foi pressentido por
algumas pessoas, como, dentre elas, 
o empresário inglês Middleton
Muitas pessoas que possuem habilidades no campo da precognição ou premonição conseguem prever tragédias futuras. Citamos o irlandês Zak Martin, descrevendo um avião colidindo num arranha-céu e explodindo em chamas. Seis dias após, dois aviões comerciais foram lançados contra as torres gêmeas, em Nova York. O terrível naufrágio do Titanic foi pressentido por algumas pessoas como o empresário inglês Middleton que sonhou
durante  duas  noites  seguidas  com um navio de quilha para o ar, cercado de
 pessoas e bagagens boiando. Resolveu, então, cancelar sua viagem e a de seus familiares. Um marinheiro recusou a função de subchefe de máquinas por causa de uma premonição de desastre. A sensitiva americana Sylvia Browne, em outubro de 2004, disse em pleno programa  de  TV  que  os  turistas deveriam evitar viajar
para a Índia. Dois meses depois parte do país mencionado foi atingido pelo tsunami.
 
Na literatura subsidiária espírita temos algumas fontes de consulta a respeito do assunto em tela: 1- Em 17 de dezembro de 1961, em Niterói (RJ), aconteceu a trágica tragédia num circo, relacionado, segundo o Espírito Humberto de Campos, como expiação coletiva, envolvendo romanos que assassinaram dezenas de cristãos, em um circo armado em Lião, no ano de 177 ("Cartas e Crônicas, cap. 6, FEB);2-  O incêndio do Edifício Joelma (foto),
em São Paulo, com muitas vítimas, foi explicado como dívidas reportadas ao tempo das guerras das Cruzadas (“Diálogo dos Vivos", cap. 26); 3- Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier, na questão 250 do livro “O Consolador”, esclarece-nos: “na provação coletiva verifica-se a convocação       dos      Espíritos       encarnados,
participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro. O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então espontaneamente, através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas na dívida do pretérito para os resgates em comum, razão por que, muitas vezes, intitulais – doloroso acaso - às circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais” e André Luiz, no capítulo 18, do livro “Ação e Reação”, psicografado por Chico Xavier, descreve as palavras do benfeitor espiritual Druso, a respeito de um acidente ocorrido com uma aeronave, na qual pereceram 14 pessoas. Ressaltamos a informação de que “milhares de delinqüentes que praticaram crimes hediondos em rebeldia contra a Lei Divina encontram-se, ainda, sem terem os débitos acertados”.
Que tenhamos a certeza de que o amor de Deus é incomensurável e existe uma razão espiritual para as tragédias que deixam aterrorizadas as criaturas terrenas. Tudo tem uma finalidade, a casualidade não existe. O Pai nos proporciona a todos nós, seus filhos, herdeiros e viajores do Cosmo, a sua Eterna Misericórdia. 
 

quarta-feira, 25 de abril de 2012


OBSESSÃO ESPIRITUAL, CAUSA DAS GRANDES ANGÚSTIAS HUMANAS.
Para garantir-nos contra a sua influência urge fortalecer a fé 
pela renovação mental e pela prática do bem nos
moldes dos códigos evangélicos

Confrades vez ou outra nos indagam por que viver na Terra é tão complicado e quase sempre tão amarga é a vida? Digo-lhes que essa sensação eventualmente pode ser uma aspiração à felicidade e à liberdade e que, algemado ao envoltório físico que nos serve de cárcere, aplicamo-nos a inúteis esforços para dele sair. Contudo, alguns se abatem no desencorajamento, e a todo o instante reverberam suas lamentações. Mas é preciso resistir energicamente a essas sensações de desânimo e desesperanças, porque os sonhos para a felicidade de viver são intrínsecos a todos os homens, embora não a devamos sofregamente procurar somente na experiência material e transitória da vida terrena.
 
Comentando sobre a melancolia, encontramos em O Evangelho segundo o Espiritismo o Espírito François de Genève, ditando o seguinte: “Precisamos cumprir, durante nossa prova terrena, tarefas e compromissos que não suspeitamos, seja no que tange à devoção à família, ou cumprindo diversos deveres que Deus nos confiou. Se no transcurso dessa experiência, no desempenho das tarefas, observamos os cuidados, as inquietações, os desgostos esmagarem nossos ânimos d'alma, sejamos fortes e corajosos para derrotá-los. Avancemos e encaremos sem temor; pois que as aflições são de curta duração e devem nos conduzir para situações bem melhores no futuro”. 
Há, porém, muitas amarguras que podem ter suas origens na infidelidade aos compromissos cristãos, daí a melancolia se instala no ser, do que poderá resultar um processo obsessivo. Mas o que é uma obsessão? Etimologicamente, o termo tem sua origem no vocábulo obsessione, palavra latina que significa impertinência, perseguição. Para alguns estudiosos espíritas, a obsessão é percebida como um grande flagelo mundial. Essa visão se reveste de profunda gravidade na sociedade, que atualmente está bem instrumentalizada tecnologicamente, seja no campo das comunicações e da informática, seja nas outras áreas do saber, ampliando e aprofundando as responsabilidades de cada um em face da vida coletiva.  

OBSESSÃO É UMA INFLUÊNCIA MALÉFICA NA MENTE.
Aurélio Buarque define obsessão como sendo uma preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o espírito, resultante ou não de sentimentos recalcados; ideia fixa; mania. Da mesma forma a terminologia obsessão é usada, vulgarmente, para significar ideia fixa em alguma coisa, tique nervoso, gerador de manias, atitudes estranhas etc. Entretanto, sob o ponto de vista espírita, o termo tem um significado e interpretação mais amplos. Consubstancia-se numa influência maléfica relativamente persistente que desencarnados e/ou encarnados, tão ou mais atrasados que nós mesmos, podem exercer sobre a nossa vida mental.  
Para a escola clássica da psiquiatria, obsessão é um pensamento, ou um impulso, persistente ou recorrente, indesejado e aflitivo, que vem à mente involuntariamente, a despeito de tentativa de ignorá-lo ou de suprimi-lo. Psiquiatras que não admitem nada fora da matéria não podem entender uma causa oculta (espiritual), mas quando a academia científica tiver saído da rotina materialista, ela reconhecerá na ação do mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos uma força que reage sobre as coisas físicas, tanto quanto sobre as coisas morais. Esse será um novo caminho aberto ao progresso e a chave de uma multidão de fenômenos mal compreendidos do psiquismo humano. 
E, óbvio, não descartando a possibilidade da anomalia psicossomática, a Doutrina Espírita faz-nos conhecer outras fontes das misérias humanas, mantidas pela fragilidade moral dos seres. Reconhecemos que o uso dos fármacos antidepressivos estabelece a harmonia química cerebral, melhorando o humor do paciente, no entanto, agem simplesmente sobre os efeitos, uma vez que os medicamentos não curam a obsessão em suas intrínsecas causas, apenas restabelecem o trânsito das mensagens neuroniais, corrigindo o funcionamento neuroquímico do SNC (sistema nervoso central). Sócrates já afirmava que "se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma”. 
Por insinceridade, em nosso tênue esforço para a reforma moral, obstamos as relações equilibradas e equilibrantes conosco e com o próximo. Toda a nossa desarmonia leva a desenvolver sintonias viciosas com outras mentes doentias, seja de desencarnados ou encarnados, o que aguça sobremaneira nosso próprio desarranjo interior, resultando daí as ingentes dificuldades para nos libertarmos das algemas em que nos aguilhoamos ante as garras do mal.  
Na intimidade do lar, da família ou do Centro Espírita, do ambiente de trabalho profissional, adversários ferrenhos do pretérito se reencontram. Convocados pelos Benfeitores do Além ao reajuste, raramente conseguem superar a aversão de que se veem possuídos uns à frente dos outros, e (re)alimentam com paixão, no imo de si mesmos, os raios tóxicos da antipatia que, concentrados, se transformam em pontiagudos dardos magnéticos, suscetíveis de provocar a enfermidade e a própria morte.  
A obsessão espiritual é sintonia ou troca de vibrações afins. Kardec define obsessão como a ação persistente que um Espírito inferior exerce sobre um indivíduo, apresentando caracteres variados que vão desde a simples influência moral, sem sinais exteriores perceptíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. A obsessão é o encontro de forças inferiores retratando-se entre si.  


AS MÚLTIPLAS FACETAS DA OBSESSÃO.
Há quadros de obsessões explodindo por todos os lados em todos os níveis, quais sejam de desencarnados sobre encarnados e vice-versa; de encarnados sobre encarnados, bem como de desencarnados sobre desencarnados.  
Nosso mundo mental rege a vida que nos é peculiar em todas as suas dimensões, contudo, nos encontramos ainda no início do entendimento das implicações da força mental, do significado e abrangência das construções mentais na vida. Os obsessores são hábeis e inteligentes, perfeitos estrategistas que planejam cada passo e acompanham as presas por algum tempo, observando suas tendências, seus relacionamentos, seus ideais. Identificam seus pontos vulneráveis (quase sempre ligados ao descaminhamento sexual) e os exploram pertinazes. 
O pensamento exterioriza-se e projeta-se, formando imagens e sugestões que arremessa sobre os objetivos que se propõe atingir. Quando bom e edificante, ajusta-se às Leis que nos regem, criando harmonia e felicidade, todavia, quando desequilibrado e deprimente, estabelece aflição e ruína. A química mental vive na base de todas as transformações, porque realmente evoluímos em profunda comunhão telepática com todos aqueles encarnados ou desencarnados que se afinam conosco.  
Nosso universo mental é como um céu, mas do firmamento descem raios de sol e chuvas benéficas para a vida planetária, assim como, no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu procedem faíscas elétricas destruidoras. Da mesma forma funciona a mente humana. Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de células do organismo físico, mas, quando perturbada, emite raios magnéticos de elevado teor destrutivo para a nossa estrutura psíquica.  
O mestre lionês redarguiu dos Espíritos, na questão 466 d' O Livro dos Espíritos, por que permite Deus que os obsessores nos induzam ao mal? Os Espíritos responderam: "Os seres imperfeitos são instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens na prática do bem. Como Espírito, deveis progredir na ciência do infinito, razão por que passais pelas provas do mal, a fim de chegardes ao bem. Nossa missão é a de colocar-vos no bom caminho e quando más influências agem sobre vós, é que as atraís, pelo desejo do mal. Os Espíritos inferiores vêm em vosso auxílio no mal, sempre que desejais cometê-lo; e só vos podem ajudar no mal quando quereis o mal. Então, se vos inclinardes para o assassínio, tereis uma nuvem de Espíritos que vos alimentarão esse pendor. Entretanto, tereis outros que procurarão influenciar-vos para o bem. Assim se restabelece o equilíbrio e ficais senhor de vós mesmos”. 

RENOVAÇÃO MORAL COMO BASE PARA A DESOBSESSÃO ESPIRITUAL.
O venerável Codificador, em O Livro dos Médiuns, afirma que as imperfeições morais dão acesso aos obsessores e o meio mais seguro de nos livrarmos deles é atrair os bons Espíritos pela prática do bem. A obsessão é impotente diante de Espíritos redimidos! E o que é um Espírito redimido? É aquele que reconhece as suas limitações e, como enunciado pelo apóstolo Paulo, sente a alegria de saber-se "matriculado na escola do bem”. 
Esse desarranjo psicoespiritual deverá ser eliminado da sociedade no instante em que o lídimo exemplo do amor for experimentado e disseminado em todas as direções, consoante Jesus consubstanciou e vivenciou até as agruras da morte, prosseguindo desde tempos apostólicos até os dias atuais.  
O Espiritismo, desvendando a intervenção dos Espíritos endurecidos no mal em nossas vidas, lança luzes sobre questões ainda desconsideradas pelas ciências materialistas como de causa psicopatológica.
Muitas vezes procurado pelos obsidiados, o Cristo penetrava psiquicamente nas causas da sua inquietude e, usando de sua autoridade moral, libertava tanto os obsessores quanto os obsidiados, permitindo-lhes o despertar para a vida animada rumo à recuperação e à pacificação da própria consciência. Porém, é muito importante lembrar que Jesus não libertou os obsidiados sem lhes impor a intransferível necessidade de renovação íntima, nem expulsou os perseguidores inconscientes sem fornecer-lhes o endereço de Deus. 
Conclusão 
Em síntese, identificamos sempre na obsessão (espiritual) o resultado da invigilância e dos desvios morais. Para garantir-nos contra a sua influência urge fortalecer a fé pela renovação mental e pela prática do bem nos moldes dos códigos evangélicos propostos por Jesus Cristo, não nos esquecendo dos divinos conselhos do Vigiai e Orai.

Bibliografia consultada: 
Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001, cap. V, item 25.
Dicionário Aurélio eletrônico; século XXI. Rio de Janeiro, Nova Fronteira e Lexicon Informática, 1999, CD-rom, versão 3.0.
Xavier, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. Dominação Telepática.

domingo, 22 de abril de 2012


 A HOMOSSEXUALIDADE NA VISÃO ESPÍRITA

(Parte 2 e final)
 

Allan Kardec elucida a questão na Revista Espírita. Emmanuel esclarece sobre o tema em Vida e Sexo e Chico Xavier opina sobre o assunto



André Luiz no livro Ação e Reação 
Dando prosseguimento ao desenvolvimento do tema, apresentaremos da obra Ação e Reação, psicografada pelo médium Chico Xavier, esclarecimentos formulados pelo Benfeitor Espiritual André Luiz no capítulo 15, que tem por título “Anotações Oportunas”. Nele, ele relata que Hilário, seu companheiro de estudos na espiritualidade, em certa oportunidade indagou do Assistente Silas sobre os problemas inquietantes da inversão sexual.
“Silas deu-se pressa em aclarar e disse: — Não será preciso alongar elucidações. Considerando-se que o sexo, na essência, é a soma das qualidades passivas ou positivas do campo mental do ser, é natural que o Espírito acentuadamente feminino se demore séculos e séculos nas linhas evolutivas da mulher, e que o Espírito marcadamente masculino se detenha por longo tempo nas experiências do homem. Contudo, em muitas ocasiões, prosseguiu Silas dizendo, quando o homem tiraniza a mulher, furtando-lhe os direitos e cometendo abusos, em nome de sua pretensa superioridade, desorganiza-se ele próprio a tal ponto que, inconsciente e desequilibrado, é conduzido pelos agentes da Lei Divina a renascimento doloroso, em corpo feminino, para que, no extremo desconforto íntimo, aprenda a venerar na mulher sua irmã e companheira, filha e mãe, diante de Deus, ocorrendo idêntica situação à mulher criminosa que, depois de arrastar o homem à devassidão e à delinquência, cria para si mesma terrível alienação mental para além do sepulcro, requisitando, quase sempre, a internação em corpo masculino, a fim de que, nas teias do infortúnio de sua emotividade, saiba edificar no seu ser o respeito que deve ao homem, perante o Senhor.
Nessa definição, porém, não incluímos os grandes corações e os belos caracteres que, em muitas circunstâncias, reencarnam em corpos que lhes não correspondem aos mais recônditos sentimentos, posição solicitada por eles próprios, no intuito de operarem com mais segurança e valor, não só o acrisolamento moral de si mesmos, como também a execução de tarefas especializadas, através de estágios perigosos de solidão, em favor do campo social terrestre que se lhes vale da renúncia construtiva para acelerar o passo no entendimento da vida e no progresso espiritual.”  


André Luiz no livro Sexo e Destino 
O Benfeitor Espiritual André Luiz também aborda na obra Sexo e Destino, psicografada por Chico Xavier, a questão da homossexualidade, no capítulo IX da segunda parte, ao participar de um encontro para estudos no Instituto de Renovação “Almas Irmãs”, dirigido pelo Instrutor Espiritual Félix, para Espíritos necessitados de reeducação sexual após a desencarnação.
Relata André Luiz que Félix, explanando sobre as ideias que diversos participantes aventavam, historiou, em síntese, que na Espiritualidade Superior o sexo não é considerado unicamente por baliza morfológica do corpo de carne, distinguindo macho e fêmea, definição unilateral que, na Terra, ainda se faz seguir de atitudes e exigências tirânicas, herdadas do com­portamento animal.  
Entre os Espíritos desencarnados, a partir daqueles de evolução mediana, o sexo é categorizado por atributo divino na individualidade humana, qual ocorre com a inteligência, com o sentimento, com o raciocínio e com faculdades outras, até agora menos aplicadas nas técnicas da experiência humana. Quanto mais se eleva a criatura, mais se capacita de que o uso do sexo demanda discernimento pelas responsabilidades que acarreta.
Qualquer ligação sexual, instalada no campo emotivo, engendra sistemas de compensação vibratória, e o parceiro que lesa o outro, até o ponto em que suscitou os desastres morais consequentes, passa a responder por dívida justa.
Todo desmando sexual danificando consciências reclama corrigenda, tanto quanto qualquer abuso do raciocínio. Homem que abandone a companheira sem razão ou mulher que assim proceda, gerando desregramentos passionais na vítima, cria certo ônus cármico no próprio caminho, pois ninguém causa prejuízo a outrem sem embaraçar a si mesmo. 


Renovando conceitos 
Félix vaticinou que a Terra, a pouco e pouco, renovará princípios e conceitos, diretriz e legislação, em matéria de sexo, sob a inspiração da Ciência, que situará o problema das relações sexuais no lugar que lhe é próprio. Empenhou-se a repetir que na Crosta Planetária os temas sexuais são levados em conta na base dos sinais físicos que diferenciam o homem da mulher e vice-versa; no entanto, ponderou que isso não define a realidade integral, porquanto, regendo esses marcos, permanece um Espírito imortal, com idade às vezes multimilenária, encerrando consigo a soma de experiências complexas, o que obriga a própria Ciência terrena a proclamar, presentemente, que masculinidade e feminilidade totais são inexistentes na personalidade humana, do ponto de vista psicológico.
Homens e mulheres, em espírito, apresentam certa percentagem mais ou menos elevada de característicos viris e feminis em cada indivíduo, o que não assegura possibilidades de comportamento íntimo normal para todos, segundo a conceituação de normalidade que a maioria dos homens estabeleceu para o meio social.
Tendo Neves, um dos participantes da reunião, formulado consulta sobre os homossexuais, o Instrutor Félix demonstrou que inúmeros Espíritos reencarnam em condições inversivas, seja no domínio de lides expiatórias ou em obediência a tarefas específicas, que exigem duras disciplinas por parte daqueles que as solicitam ou que as aceitam.
Referiu ainda que homens e mulheres podem nascer homossexuais ou intersexos (um ser que possui órgãos dos dois sexos), como são suscetíveis de retomar o veículo físico na con­dição de mutilados ou inibidos em certos campos de manifestação, aditando que a alma reencarna, nessa ou naquela circunstância, para melhorar e aperfeiçoar-se e nunca sob a destinação do mal, o que nos constrange a reconhecer que os delitos, sejam quais sejam, em quaisquer posições, correm por nossa conta.
À vista disso, Félix destacou que nos foros da Justiça Divina, em todos os distritos da espiritualidade superior, as personalidades humanas tachadas por anormais são consideradas tão carecentes de proteção quanto as outras que des­frutam a existência garantidas pelas regalias da normalidade, segundo a opinião dos homens, observando-se que as faltas cometidas pelas pessoas de psiquismo julgado anormal são examinadas no mes­mo critério aplicado às culpas de pessoas tidas por normais, notando-se, ainda, que em muitos casos os desatinos das pessoas supostas normais são con­sideravelmente agravados, por menos justificáveis perante acomodações e primazias que usufruem, no clima estável da maioria.  


Orientação de Chico Xavier 
No livro Kardec Prossegue, o médium mineiro, ao lhe ser perguntado seO homossexual deve-se aceitar ou deve lutar contra as suas tendências?”, respondeu o seguinte:
“Já li, de um analista de mérito, que toda amizade e que toda ligação espiritual, do ponto de vista afetivo, é parcela de homossexualidade no homem e na mulher; mas, o homossexual não poderá deixar a natureza de que é portador de um momento para outro como se ele estivesse condenado a não trabalhar, a não servir, quando nós sabemos que há tanto enfermeiro, tanto professor, tanta senhora digna que executam os deveres que lhe competem com muita eficiência e devotadamente.
Agora, o homossexual em si deve evitar a pederastia (relação sexual entre homens); a pederastia, sim, é um problema suscitado pela ânsia do homem de experimentar sensações, mas a homossexualidade está vinculada a um processo afetivo entre os homens e mulheres do planeta, de modo que é um estado natural em que as almas se afinam para fazer o bem.  
Já a pederastia é muito diferente. Quando nós falamos homossexual, lembramo-nos logo de quadros infelizes, mas a verdade é que a homossexualidade está em toda pessoa que tem um amigo ou que tem deveres de fraternidade, de assistência para com o próximo. A pederastia é que é o grande problema que devemos evitar e entender como sendo uma condição desnecessária e mesmo imprudente da parte de todos os homens.
E vamos dar ao assunto a cor que o assunto traz consigo: todo homem deve evitar a pederastia; toda mulher pode estar perfeitamente fora do lesbianismo (relação sexual entre mulheres), porque a nossa formação nos leva sempre para o caminho do que já fomos e às vezes nós viemos para não ser mais o que já fomos e sim para aprender a considerar o que devemos ser”.

Conclusão

Diante do que foi exposto nas Partes 1 e 2 deste artigo, apresentamos uma síntese do assunto abordado:


1. O Espírito não tem sexo.


2. O Espírito pode escolher encarnar num corpo de homem ou de mulher.


3. O sexo, na essência, é a soma das qualidades passivas ou positivas do campo mental do ser.


4. Abusos do homem para com a mulher, e vice-versa, provocam desequilíbrio e necessidade de encarnação na outra polaridade sexual, para valorização da condição masculina ou feminina.


5. Também existem inversões solicitadas por almas grandiosas para execução de tarefas específicas que exigem renúncia de si mesmo.


6. Na Espiritualidade Superior o sexo não é considerado unicamente por baliza morfológica do corpo de carne, distinguindo macho e fêmea.


7. Entre os Espíritos desencarnados, a partir daqueles de evolução mediana, o sexo é categorizado por atributo divino na individualidade humana.


8. O uso do sexo demanda discernimento pelas responsabilidades que acarreta.


9. Todo desmando sexual danificando consciências reclama corrigenda, tanto quanto qualquer abuso do raciocínio.


10. A realidade integral, regendo os marcos masculino e feminino, é do Espírito imortal, com idade às vezes multimilenária, encerrando consigo a soma de experiências complexas.


11. Os Espíritos reencarnam em condições inversivas, seja no domínio de lides expiatórias ou em obediência a tarefas específicas, que exigem duras disciplinas por parte daqueles que as solicitam ou que as aceitam.


12. Todo homem deve evitar a pederastia; toda mulher pode estar perfeitamente fora do lesbianismo, porque a nossa formação nos leva sempre para o caminho do que já fomos e às vezes nós viemos para não ser mais o que já fomos e sim para aprender a considerar o que devemos ser.